Atacama Fashion Week: Transformando Desperdício em Consciência Ambiental

Por Fabio Lage

As paisagens imponentes do deserto do Atacama, no Chile, não são mais apenas o cenário de dunas intermináveis e céus infinitos. Nos últimos dias, as areias áridas testemunharam uma transformação inspiradora, à medida que o Projeto Atacama Fashion Week tomou forma. Esse projeto audacioso não apenas virou as lentes do mundo para a crise do descarte inadequado de roupas, mas também se tornou um farol de esperança para um futuro mais sustentável.

Há dois anos, o mundo ficou chocado com as imagens que circularam, retratando montanhas de roupas entre as dunas do deserto. Esse desolador cenário, uma consequência direta da indústria da moda fast-fashion, revelou a feiura do descarte inconsciente que se tornou uma prática comum. Mas agora, essa mesma paisagem desértica foi palco de um evento sem precedentes, onde a moda e a consciência ambiental se encontraram em harmonia.

O Atacama Fashion Week não foi apenas um desfile de moda, foi uma declaração global contra a cultura do descarte. No coração do deserto, modelos desfilaram looks confeccionados a partir das próprias roupas abandonadas na região. Sob os olhos atentos do renomado fotógrafo Mauricio Nahas, esse evento transcendeu as passarelas tradicionais, tornando-se um manifesto pela mudança.

Ángela Astudillo, co-fundadora da ONG Desierto Vestido, expressou a urgência dessa iniciativa:

“Estamos aqui todos os dias, lutando contra esse problema crescente. Precisávamos de algo grandioso para despertar a atenção de todos os envolvidos e encontrar soluções. O Atacama não pode mais esperar.” diz Ángela.

Enquanto o desfile ecoava entre as dunas, Eloisa Artuso, co-fundadora do Instituto Febre, ressaltou a necessidade premente de ação contra a crise climática:

“O setor da moda precisa assumir sua responsabilidade nessa agenda global. Para cumprir as metas do Acordo de Paris, é fundamental reduzir as emissões pela metade até 2030.”

A cultura do “descartável” permeou os tempos modernos, mas é hora de mudar essa narrativa. Do sul ao norte, da produção à distribuição, todos os elos da cadeia de moda têm um papel a desempenhar. Fernanda Simon, diretora executiva do Fashion Revolution Brasil, destacou a importância da transparência das marcas:

“Precisamos responsabilizar as marcas e exigir compromissos sólidos. Da sociedade civil, devemos disseminar informações e impulsionar ações de mobilização.”

O Atacama Fashion Week não é apenas um evento isolado, mas um chamado à ação global. Com o apoio de parceiros como a agência Artplan e a produtora Sugarcane Filmes, essa iniciativa está pavimentando o caminho para um futuro onde a moda e a sustentabilidade caminham de mãos dadas. Enquanto as dunas do deserto testemunham essa transformação, o mundo inteiro é lembrado de que cada peça de roupa tem uma história e um impacto, e cabe a nós moldar um futuro onde esse impacto seja positivo.

Foto: Maurício Nahas