DNA do Brasil: A miscigenação que pulsa como arte
Por Fabio Lage – House of Models
Mon petit, uma pesquisa inédita publicada na revista Science acaba de confirmar o que as vielas, os terreiros, os salões de beleza e as pistas de dança brasileiras já sabiam de cor e pele: o Brasil é o país mais miscigenado do mundo. Segundo o estudo conduzido por cientistas da USP, nosso DNA carrega 60% de ancestralidade europeia, 27% africana e 13% indígena — em proporções que variam pelo território, mas que se misturam em cada esquina, cada corpo, cada expressão.

Mas se o genoma fala, a arte grita. E Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira é esse grito: uma exposição que assume sua função de oráculo contemporâneo e coloca a estética preta, indígena e plural no centro da roda. Esqueça o silêncio dos museus brancos: aqui, o tambor é curador, a tela é reza e a presença negra não pede licença — ela ocupa, ilumina e exige escuta.
A mostra — com curadoria de Bia Andrade — reúne obras que reclamam o direito à existência simbólica, estética e histórica de um povo cuja contribuição é estrutural, embora constantemente apagada. Ui ui ui… o Brasil pode até não saber de onde veio, mas essa exposição mostra exatamente pra onde a gente precisa olhar.

Curadoria como feitiçaria militante: Bia Andrade acende as velas da história
Sob a batuta da curadora Bia Andrade, a exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira faz o que a elite branca da arte insiste em evitar: descentraliza o discurso, devolve protagonismo e resgata saberes que nunca deixaram de existir, apenas foram silenciados. A escolha de artistas, suportes, linguagens e temáticas não é aleatória, mon amour — é estratégica, quase ritualística.
Tem pintura que evoca Exu, fotografia que revisita o corpo negro sob outro prisma, retrato que explode os estereótipos com uma paleta de cores tão afiada quanto um xirê. Tudo está no lugar certo, mas nada está domesticado. Não é uma exposição para o olhar preguiçoso — é pra quem entende que curadoria também é ato político.
A própria estrutura da mostra — com o painel de entrada exaltando o termo “encruzilhada” em caixa alta, ladeado por um mapa e uma parede de nomes — já dá o recado: aqui se entra com reverência, porque cada obra é ponto de força. Cada nome na parede é uma vela acesa contra a invisibilidade.

Entre mapas genéticos e pinturas-axé: o futuro nasce no cruzo
Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira é uma cerimônia de reexistência. Cada obra, cada gesto curatorial, cada corpo presente ecoa o som de tambores que nunca se calaram — apenas foram abafados por séculos de verniz colonial. Aqui, eles rufam de novo, firmes, reordenando o tempo e reescrevendo o presente com tinta preta e brilho dourado.
Essa mostra rompe o ciclo do “incluir para aplacar” e inaugura o “celebrar para expandir”. Não estamos mais falando de concessões: estamos falando de protagonismo. O que se vê é o prenúncio de um novo ciclo nas artes visuais brasileiras — um ciclo onde a beleza negra não precisa mais se explicar, apenas existir. E existir com força, com volume, com presença estética e espiritual.
Se o Brasil ainda tateia suas próprias origens, essa exposição entrega um mapa: o ponto de partida está nas encruzilhadas — porque é ali que o futuro se faz presente. E no fim das contas, arte também é isso, honey Lee: um despacho de beleza, um grito de cura, um convite para dançar no meio do cruzo… você vem?

Serviço
Exposição: “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”
Período da exposição: até dia 31/08/2025
Visitação: Terça a domingo, das 10h às 16h30
Local: Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) – Rua das Vassouras, 25,
Centro Histórico, Salvador – Bahia
Entrada: os ingressos para visitar o MUNCAB se encontram disponíveis online ou na bilheteria do museu.
Valores: R$20 (inteira) e R$10 (meia)
Clientes BB – direito a meia-entrada mediante a apresentação do RG e Cartão de Crédito ou Débito. Direito a 1 acompanhante.
Funcionários BB – acesso gratuito ao museu com apresentação do RG e comprovação profissional.
Foto: Divulgação
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