Por Fábio Lage – House of Models
Entre véus e verdades: Walério Araújo encerra a SPFW com espetáculo fashion sobre gênero, poder e delírio, com Maya Massafera na passarela e um casting de ouro
Ui, ui, ui, mon amour… segura esse fechamento de SPFW N59 porque Walério Araújo fez um verdadeiro ritual em nosso ultimo desfile para a semana de moda de São Paulo. A apresentação do estilista foi uma missa fashion profana babadeira. Um manifesto que subverteu alfaiatarias, revelou segredos nas costas nuas e aplicou brilhos até nas polêmicas. Aos 55 anos de idade e 30 de carreira, Walério colocou a moda brasileira diante de um espelho nada convencional: distorcido, fetichista, ousado e, acima de tudo, libertador… que delicinha!

Na passarela, o avesso virou ponto de partida e ponto final. Blazers desconstruídos, camisas com acabamento exposto, vestidos que de frente eram couture e, de costas, puro escândalo. A dualidade proposta por Walério se conecta com a própria identidade queer, em sua expressão pública e privada. A alfaiataria — que ele vem refinando a cada temporada — virou palco para corpos diversos, silhuetas tensionadas e jogos visuais entre masculino e feminino, sagrado e profano, luxo e fetiche.

Direção, styling e beleza: um time que orquestrou o caos com maestria
Ed Benini assinou a direção do espetáculo com um ritmo que beirava a performance de um show musical. Tudo ali tinha uma ordem dentro da desordem. Já Marcell Maia comandou o styling com precisão cirúrgica: combinou cartolas acolchoadas, véus, tules, alfaiataria invertida e muita oncinha em composições que transformaram cada look em um personagem, uma história, um recado… de abalar as estruturas de Bangu, meu bem!

A beleza de Helder Rodrigues foi puro teatro andrógino. Olhos marcados com tons góticos, bocas que variavam entre o glam e o fetiche, e uma vibe quase litúrgica, como se cada modelo fosse um sacerdote da nova moda. A beleza do desfile carregavam uma provocação: se a sociedade te impõe padrões, você responde com glitter, delineador e atitude, meu bem! como já dizia minha amiga Alicia Kuczman… – “I’m Sorry”

A trilha sonora? Um gemido de liberdade.
Meu xará Fábio Lopes fez a pista tremer com sons que misturavam sussurros, batidas eletrônicas e respirações tensas. A trilha foi o coração pulsante de uma coleção que, mesmo sem tema nomeado, gritou por atenção — e teve.

Maya Massafera e o casting que sustenta discurso e causa burburinho nos bastidores
O desfile causou reboliço — literalmente — com a presença de personalidades não-modelos na passarela. A icônica e babadfeira Maya Massafera, por exemplo, surgiu desfilando de terno, roubando os flashes e dividindo opiniões nos bastidores. Além de Maya, quem brilhou mesmo foram nomes que sustentaram o conceito com corpo e alma:

Luisa Laux abriu o desfile como uma entidade em púrpura e véu translúcido, deixando claro que o tom da noite era místico e escandaloso. Em seguida, Helena Roehe surgiu pleníssima em um look de plumas violetas que parecia cortar o ar. Lia Beatriz roubou olhares com cartola e textura acolchoada num look que parecia uma versão cyber-afro-futurista da chapeleira maluca.

Débora Correia desfilou poderosa em dourado com brilho celestial, enquanto Isabelle Cordova surgiu como uma aparição em tule cravejado de cristais. Nicole Gandra quebrou tudo com terno preto de decote até o umbigo. Pedro Costa apareceu de suéter com símbolo gráfico e meia-calça preta — ícone sem esforço. Ellen Lopes foi aquela surpresa deliciosa: só reconhecida quando disse “oi!” e atravessou a passarela com vestido roxo e máscara bordada. Guilherme Freitas, como já comentamos, encerrou com um dos looks mais polêmicos e icônicos da noite.

Cartela de cores: do luto ao luxo em neon
Roxo, preto, dourado, nude e arco-íris. A paleta de Walério é quase sempre uma festa, mas aqui foi mais: foi discurso. O preto dramático, o roxo espiritual, o dourado celestial, o nude provocador, e as cores do arco-íris como símbolo de existência.

Acessórios: máscaras, véus, cartolas e bolsas como signos
Máscaras de látex, véus transparentes, cartolas acolchoadas e bolsas em collab com a Guarda Mundo — os acessórios eram extensão da mensagem. O fetiche estava nos detalhes: nas botas, nas meias, nas luvas, nos cintos. Os sapatos de Claudio Carvalho também seguiam a lógica dramática: dourado reluzente ou preto fetichista.

Para o HofM, Walério é o último a desfilar porque ninguém segura depois dele.
Enquanto as outras marcas procuram conceito, Walério já está desfilando verdades. Ele não quer só fazer roupas, quer provocar debates, sacudir a caretice e dizer — sem medo — que moda também é política, desejo e grito.

E foi assim, com uma coleção que fez a SPFW ajoelhar no veludo e se levantar aplaudindo no fetiche, que encerramos nossa cobertura da N59. Voltamos em outubro, na edição histórica de 30 anos do SPFW e 15 anos do House of Models, prontos para mais uma temporada de babados, gritaria e confusão fashion.
E será que teremos uma festa babadeira com nossas modelos que amamos debutando no baile de 15 anos do House of Models?

Façam suas apostas e até lá, mon amour!
Foto: Ag. Fotosite
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