Por Fábio Lage – House of Models
Ui ui ui, darling Lee! O cenário? Um curral de Catunda (CE), chão de terra batida, galinhas metidas e um jumento que roubava cena. No centro, ela — Kayla Oliveira — cabelos cacheados ao vento, postura de quem já sabia: “me assistam”. Foi assim, entre bois e fuxico, que a menina do sertão deu seu primeiro passo rumo ao Olimpo fashion. Da roça à São Paulo Fashion Week, sem pedir licença — e mon amour, ela chegou virando manchete.

A menina que ligou o modem e sonhou alto
Em 1995, Kayla nasceu em um povoado que só ganharia energia elétrica em 2009. Filha de agricultores, órfã de mãe aos 20 meses, criada pelo pai frentista e pela avó rendeira. Seu feed inicial era a TV comunitária. E bastou a primeira propaganda de moda para acender um desejo: ser modelo. Mas quem nasce longe do centro, cria atalhos.
“Decidi que queria ser modelo quando conheci esse mundo pela internet. Não tinha referência parecida com a minha realidade.” — contou Kayla.

Fortaleza, preconceito e um “não” que virou impulso
Aos 17, Kayla parte para Fortaleza: telemarketing de dia, caçada a agências de modelo à noite. Foi quando ouviu a frase que marcaria sua jornada: “Ou você transiciona ou segue carreira, as duas coisas juntas não dá certo.” Ela escolheu as duas. Porque quem é do sertão não baixa a cabeça, queridah!
Em 2018, se inscreve no The Look of The Year, chega à final e chama a atenção da JOY Management. Foi o início oficial — mas ainda longe dos holofotes.

Pandemia, TikTok e a viralização da roça fashion
Em 2020, a pandemia trava o país. Mas Kayla, trancada na Barra Funda, reinventa seu quintal: vídeos desfilando entre galinhas, com paetês da 25 de Março e chapéu de vaqueiro. O algoritmo abraça. E é aí que Airon Martin, diretor criativo da Misci, enxerga não só uma modelo, mas um manifesto vivo.
SPFW N52: a estreia que cravou seu nome na história
19 de novembro de 2021 marca a estreia da Misci em passarela física — e também de Kayla na SPFW. A coleção “Fuxico Lanches” homenageia lanchonetes de beira de estrada, fuxicos artesanais e o orgulho do Brasil profundo.

“Kayla traz cheiro de terra molhada. Sem ela, a coleção perderia alma.” — declarou Airon.
A sincronia foi tão potente que a imprensa celebrou a dobradinha: marca e modelo estreantes, unidas pela mesma estética de raiz.
Da Misci ao circuito das grandes: o efeito Kayla
Após o impacto da estreia, Kayla multiplicou passarelas: Jerimum (Misci), Sou de Algodão, Ateliê Mão de Mãe, Ellus, Weider Silvério, Korshi 01. Em uma edição da SPFW, somou sete desfiles — um marco para uma new face trans nordestina.
E com cada passo, ela fincava uma estaca no discurso de diversidade real — longe do folclore, perto da autenticidade.
Militância com salto agulha: “Não sou cota, sou profissional”
Kayla nunca foi só estética. Em 2023, declarou:
“Parem de nos matar. Representatividade não é enfeite de mês de junho. É presença real, o ano todo.”
Ela denuncia o tokenismo — marcas que usam uma modelo trans para “cumprir cota” — e defende a ocupação plural de espaços. Com a força de quem sabe que sua existência já é revolução… o babado é certo, mon chéri!

Do casting ao estrelato: novas agências, novos voos
Entre 2019 e 2021, Kayla integrou a JOY Management, migrando em seguida para a Way Model. Em 2025, consolidou seu nome no casting da Allure Management, agência boutique reconhecida por impulsionar talentos no circuito premium.
A Allure anunciou sua chegada com a legenda minimalista — “Now representing Kayla Oliveira_” — mas nos bastidores, negociações com mercados internacionais já aquecem… spoiler!

A dura vida de uma new face: por trás do glamour
Entre desfiles e editoriais, Kayla encara a realidade de 99% das new faces: aluguel alto, book caro, cachês que nem sempre refletem o impacto midiático. Ainda assim, ela ri:
“O silicone chiou no inverno, parecia castanhola. Mas tô aqui, firme e forte.”
E enquanto ela avança, o preconceito ainda aparece: diretor que limita trans a “uma por desfile”, marca que pede “menos sotaque”.

O futuro é feito de fuxico, mas com olhar global
Honey, com a Allure, a projeção é clara: expandir sua atuação internacional. Londres, Paris, e circuitos alternativos que buscam narrativas autênticas. Além disso, Kayla Oliveira já estuda projetos de impacto social, como uma coleção com rendeiras do Cariri e ações de microcrédito para mulheres artesãs.
Catunda, brilho e revolução!
Baby Lee, convenhamos… Kayla Oliveira não é um nome que surgiu da viralização. Ela é o resultado de anos de resiliência, talento e, acima de tudo, pertencimento. Sua trajetória desmente a ideia de que a moda brasileira só cabe na bolha do eixo Rio-SP. Ela é a prova viva de que o sertão não é exótico: é essência.

“A gente planta, rega e floresce. Ninguém atravessa essa passarela por nós.”
E aqui no House of Models, a gente aplaude cada passada com gosto. Porque quando a menina do sertão pisa no catwalk, o mundo precisa ouvir o barulho.
Atura ou surta, bebê.
Foto: Divulgação
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