Por Fábio Lage — House of Models
Mon amour, que São Paulo Fashion Week foi esse, honey Lee… Jesus apaga a luz que eu quero descer, porque essa edição N59 foi uma ode à criatividade brasileira costurada com dendê, drama, suor, spray de cabelo e aquele veneno fashion que só o House of Models sabe destilar. Entre os dias 6 e 11 de abril de 2025, nossa equipe esteve presente, mapeada pelas assessorias das principais marcas, registrando tudo ao vivo e com olhar clínico. Já outras marcas — Aluf, João Pimenta, Handred, MNMAL, Patrícia Vieira e Piet — ignoraram e-mail, WhatsApp e até sinal de fumaça. E como diria nossa musa Regina Guerreiro: onde não somos convidados, não nos cabe. Curtida não paga boleto, e o jornalismo de moda não é favor — é trabalho. Por isso, nesta cobertura babadeira, falaremos apenas de quem nos respeitou como imprensa e colaborou com nosso olhar afiado. Porque desfile sem imprensa é só cabide balançando ao vento… beijos queridos!

A SPFW N59 celebrou os 30 anos da semana de moda mais importante da América Latina com um line-up reduzido, mas repleto de coleções impactantes. Se a edição anterior foi um desfile de quantidade, essa foi de qualidade. Vimos menos marcas, mais conceito e uma entrega visual das mais potentes dos últimos anos. Teve desfile na Blue Space, desfile no meio do shopping, desfile com show, desfile que parecia filme. E claro, teve desfile que virou caso de polícia… -Chamaram os alibans, mona!

Herchcovitch reacendeu o clubber com cristais fluorescentes sob luz negra. Dario Mittmann transformou Deborah Secco numa entidade prateada saída de uma rave em Marte. Walério Araújo misturou lurex, franjas e bordados em zonas erógenas. O brilho voltou com força: não como ornamento, mas como armadura estética e simbólica.

Leandro Castro transformou resíduos têxteis em casacos-escultura. Weider Silveiro moldou o corpo com jersey de poliamida ajustado ao busto e quadril, trazendo leve brilho, recortes estratégicos e jeans sustentável sem lavagem em tons claros. À La Garçonne costurou ternos com renda, xadrez e fetiche. A alfaiataria agora respira, sente e reage.

A Dendezeiro não desfilou — incorporou. Palha, couro, tapeçaria, capivara e carimbó viraram roupa. Normando trouxe o romance amazônico como ponto de partida para casacos chuvosos e silhuetas que choram. Reptilia moveu placas tectônicas com tecidos de reuso, criando roupas que desabam e sustentam. Rendas reveladoras, véus, lingerie à mostra, hot pants sob tule. O sexy voltou político, espiritual e provocador. A nudez virou mensagem. O corpo, território sagrado. De Leandro Castro a Reptilia, de Normando a Dario Mittmann. A sustentabilidade deixou de ser rústica e virou luxo com propósito.

O marrom e seus tons ferrugem dominaram com força a temporada. Foi o terroso que marcou presença em coleções como a da Reptilia, Dendezeiro e Normando — sempre com significado, textura e densidade. O vermelho não apareceu, ele invadiu. Esteve nos cabelos moldados de Weider Silveiro e em detalhes vibrantes que chamavam atenção como sinal de vida e fogo. Verdes e azuis foram usados em profundidade por Lino Villaventura, Dendezeiro e Normando. São tons que remetem à mata, ao rio, à fé, ao sopro de vida. Prata e dourado foram protagonistas em coleções como Dario Mittmann e Walério Araújo. Os metais vieram como símbolo de escudo, resistência e futuro.

Leandro Castro apresentou bocas marcadas por batom preto gloss com contorno além da linha natural. A maquiagem tinha uma carga gótica e provocativa, transformando o rosto em símbolo de resistência visual. Dario Mittmann apostou em sobrancelhas descoloridas e reaplicadas com fios em tons caramelo e amarelo, criando um efeito híbrido entre o tribal e o futurista. O olhar virou escultura viva. Weider Silveiro cobriu as cabeças das modelos com fios vermelhos intensos, criando uma estética quase de armadura capilar. Já Celso Kamura torceu e modelou os coques da À La Garçonne até se transformarem em formas esculturais. A pele apareceu com viço, sardas expostas e blush esculpido.

A maquiagem ora sumia, ora urrava, mas nunca foi banal. Em muitos desfiles, a pele aparecia quase crua, com sardas visíveis, olheiras preservadas e blush esculpido como se fosse emoção que veio à tona. Em outros, a beleza gritava com olhos metalizados, bocas negras, sobrancelhas tingidas ou delineados gráficos que mais pareciam pinceladas de protesto. O rosto virou tela e manifesto. A proposta dominante foi abandonar o retoque pela verdade: a maquiagem não como filtro, mas como ferramenta narrativa. Cada look parecia contar uma história íntima — e às vezes, um grito coletivo — sobre quem somos quando ousamos existir fora do padrão.

Marcelle Bittar voltou às passarelas no desfile da LED e provou que a beleza madura tem mais impacto do que mil filtros. Modelos como Liya Santos, Noah Alef, Helena Roehe, Lia Beatriz, Pedro Costa, Nicole Gandra e Ellen Lopes desfilaram para marcas como Walério Araújo, Herchcovitch, LED e À La Garçonne com presença marcante e consistência. A Dendezeiro escalou Gaby Amarantos, Liniker, Majur e um casting plural que fez a passarela virar altar de representatividade, fé e emoção.

Raphael Fonseca foi hostilizado e empurrado por um casal branco durante o desfile de Walério Araújo. O caso virou boletim de ocorrência e expôs o racismo estrutural dentro do próprio público da moda. Um episódio vergonhoso que precisa ser enfrentado com urgência. Gaby, Gianecchini, Ticiane, MC Cabelinho… todo mundo quer um close. Mas e os modelos profissionais? Fica o recado: semana de moda não é red carpet. É chão de ofício.

Juliano Floss ferveu os bastidores da LED e revelou, com exclusividade ao House of Models, novidades sobre sua estreia na TV. Costanza Pascolato dançou com Herchcovitch na Blue Space. A moda brasileira provou que sabe ser clássica e rave, tudo ao mesmo tempo. Deborah Secco cruzou a passarela prateada por Dario Mittmann, incorporando uma entidade futurista com direito a emoção e delírio coletivo.

Essa temporada foi um espetáculo de identidade, provocação e coragem. E que fique registrado: o House of Models estava lá, presente, mapeado, assistindo, anotando, sentindo. Não de fora, mas dentro da roda. Dentro do batidão. E que venha outubro — com os 30 anos do SPFW e os 15 do nosso HofM. Porque a gente não desfila… a gente atravessa.
Atura ou surta, bebê!
Deixar um Comentário