Se você pensou que feminilidade era sinônimo de rosa bebê e rendinha francesa, pega seu sapato roxo e vem rever esse conceito, mon amour. Weider Silveiro abriu a passarela como quem abre um templo — e entregou uma aula de História da Arte, cultura pop e sensualidade esculpida no jersey.
Ui ui ui, segura esse shape, mon amour! Era manhã de quarta-feira, mas quem estava no JK Iguatemi sentiu um leve tremor no chão. Não era terremoto, era Weider Silveiro fazendo o que faz de melhor: moldando a moda como discurso — e o corpo feminino como monumento.

A SPFW N59 mal começou e já fomos lançados da Vênus de Willendorf direto para o palco iluminado de Joelma. Uma jornada visual entre o sagrado, o sexual e o simbólico. E o mais delicioso: sem medo de ser pop, sem medo de ser culto, sem medo de provocar.

Uma passarela de signos e silhuetas — feminilidade sem pedir licença
Weider não trabalha com tema, honey. Ele trabalha com obsessão. E a obsessão da vez era o corpo feminino como construção simbólica. Mas não aquele corpo filtrado de feed, viu? Aqui o busto é moldado, o quadril é esculpido, e a cintura é uma linha traçada com régua de alfaiataria e coração de artista.
É feminilidade com músculo, com memória, com Madonna e com malha tecnológica. É feminino com F de Fashion, Foda e Fabuloso.

Vênus de onde? De todas!
Weider parte da Vênus de Willendorf — aquela senhora rechonchuda e ancestral que já entendia de fertilidade muito antes da primeira capa da Vogue — e passa pela Vênus de Milo, pela Botticelli, pela Afrodite, pela Cher, pela Madonna, e chega triunfante na Joelma com seu cabelão e sua força telúrica.

É como se dissesse:
“toda mulher é Vênus, basta ver com os olhos certos.”
E ver, a gente viu. Vimos ombros marcados, vimos vestidos inflados como balões de alta-costura, vimos roupas que moldam o corpo com respeito e provocação. Vimos bustos em 3D, cinturas serpentinas e tecidos que abraçam com inteligência.

Tecnicamente falando? Um escândalo.
Malha de jersey de poliamida da Nanete Têxtil com caimento de sonho. Jeans sustentável da Canatiba sem lavagem, porque musa consciente também é musa. Os sapatos roxos da Alice Marques? Coroaram o styling como se fossem batons num editorial da Linda Evangelista. As bolsas da Ivy Bags? Bold, fofinhas e com cara de que você ainda vai ver muito por aí.
A cartela monocromática flutuou entre o menta que refresca, o berinjela que impõe, o vermelho que domina e o rosinha que engana – porque é fofo, mas dá tapa de conceito.

Quer look memorável? Então senta que lá vem os closes.
A coleção de Weider Silveiro nessa edição N59 da São Paulo Fashion Week foi daquelas que a gente não apenas vê, a gente sente… E sente com o corpo inteiro… “não é Nicole?”
Começando com um vestido menta de busto moldado e saia balonê que parecia ter saído diretamente de uma instalação artística assinada por uma versão fashionista da Louise Bourgeois — ou melhor, da própria Gisele Bündchen em estado escultórico. Era volumoso sem ser exagerado, feminino sem ser óbvio, e tão conceitual que dava vontade de exibir num cubo branco antes de usar no red carpet.

O macacão jeansado com cinto lilás foi outro momento editorial que arrancou suspiros e cliques. Com shape reto, porém temperado por um jogo de construção que deixava claro: isso aqui não veio do fast fashion não, querides. Esse look tem passaporte carimbado direto pra capa da Harper’s Bazaar com styling de revista e alma de rua.
E teve ela: a Barbie dark. Um mini pink com conchas estruturadas no busto, mangas amplas e atitude de quem acabou de sair de um clipe dirigido por Pedro Almodóvar. Era doce, era ácido, era puro deboche de quem já entendeu que feminilidade não é limite — é munição, mon amour.
O ápice? Um vestido rosa inflado, tipo casulo, que flutuava sobre o corpo como se protegesse a alma da modelo dos olhares alheios. Ali não cabia misoginia. Só cabia a mensagem: o corpo é meu, o estilo também, e quem quiser que decifre.
Mas e os homens?
Ah, mon amour, essa é a provocação fina de Weider: a coleção não é agênero, mas o discurso é universal. Tem homem que veste? Tem. E quem torce o nariz pra isso? Vai estudar História da Arte antes de criticar jersey com busto em alto-relevo, ok?

Um styling que faz o look falar
O stylist Marcell Maia provou mais uma vez que sabe ler silhuetas como quem lê poesia concreta. A construção dos cintos coloridos, os sapatos roxos pontuando os visuais com irreverência, e a costura visual entre o urbano e o icônico fez com que cada entrada fosse uma personagem inteira. Nada de peças jogadas ou sobreposições fáceis: tudo ali era pensado pra projetar corpo e atitude.

Beleza que molda e marca
Helder Rodrigues entregou uma beleza que nunca erra — literalmente. Os cabelos lambidos com tinta vermelha foram um statement à parte, enquanto a pele luminosa e as sobrancelhas marcadas realçavam a dramaticidade sem pesar. Era maquiagem com propósito: acender o rosto sem competir com o look. Resultado? Um casting de deusas modernas que pareciam saídas de um museu do futuro.

Direção de desfile que é coreografia emocional
Roberta Marzolla conduziu o desfile como quem dirige uma ópera silenciosa. Ritmo preciso, trilha pontual, entradas marcadas por emoção e não só por estética. A fluidez com que as modelos deslizavam pela passarela aumentava a potência de cada look — era moda em movimento com a intensidade de uma performance.

A passarela foi um espelho. E quem não se viu, talvez não esteja pronto pra se enxergar.
Weider Silveiro entregou um desfile que desafia, emociona e educa. Um desfile que não quer ser entendido de imediato — ele quer ser sentido. Do tipo que você vê, se arrepia e só entende três dias depois, lavando a louça.
E no fim, entre tanta Vênus, tanta Joelma e tanta mulher incrível representada… a gente só tem uma coisa a dizer:

Weider, você não fez roupa. Você fez história na SPFW… obrigado!
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