SPFW N60: Helyx da Forca no Campo de Marte; o desfile que torceu a moda brasileira, virou espetáculo aéreo e redefiniu a passarela do futuro!

Ui ui ui, mon amour de Chique-Chique… chegar ao desfile da Forca na SPFW N60 já era, por si só, uma performance experimental digna de instalação no MAM. São Paulo decidiu brincar de Rio às 18h de uma sexta-feira; trânsito caótico, buzinas sincronizadas e um acidente tão épico que parecia que a lentidão tinha descido a Serra, atravessado o Vale do Paraíba e ido bater lá em Bangu pedir um café. Tudo isso para nos conduzir ao Campo de Marte, aquele aeródromo histórico que funciona como pista aérea, base militar, polo de eventos e, eventualmente, passarela de moda para quem gosta de ver o futuro pousar sem aviso.
Como bom carioca sobrevivente da selva urbana paulistana, me agarrei ao Waze com a devoção de quem confia mais em Márcia Sensitiva do que no próprio senso de direção. E foi ela… a voz, não a santa; que nos guiou por ruas improváveis, becos que desafiam a topografia e retornos que certamente não existiam ali cinco minutos antes. Erramos o caminho? Erramos. Bati papo com semáforos? Bati. Quase virei paraquedista por acidente? Quase… o show aéreo antes do desfile estava tentador, e sinceramente, por alguns segundos, achei que era ali mesmo que minha cobertura começaria.
Mas a vida é feita de escolhas, e a minha era clara: ou descia do carro em pleno Campo de Marte e me jogava no ar, ou continuava lutando contra o congestionamento para sentar lindamente no meu front row; que, graças aos orixás da moda, me esperava intacto.
E foi ali, no meio do caos urbano, que entendi que Helyx não começou no look 1. Começou na cidade, na fricção, no desvio, na espiral do trânsito, na cartografia emocional de quem tenta chegar inteiro para ver uma coleção que fala de transformação. Porque, mon petit, quando uma marca promete torção, helicoidalidade, DNA e atrito… o universo entrega o briefing completo já na ida.
Ui ui ui, atura ou surta bebê: A moda começa muito antes da passarela.

Por Fabio LageHouse of Models

SPFW N60: quando a Forca entra em alta rotação com Helyx

Honey Lee da Silva… e Silva! Quando a moda decide girar em alta rotação, não avisa. Ela simplesmente faz. E na SPFW N60, a Forca não apenas girou: ela centrifugou referências, afetos, corpos, memórias, técnicas e um certo desejo de futuro que só existe quando um estilista encara a própria identidade e decide expandi-la num nível, digamos, helix-espiralado, mon amour. Helyx. Hélice. Rotação. DNA. Movimento. O nome da coleção não é decorativo: é manifesto. E é nessa vibração de espiral que a Forca constrói seu momento mais maduro, mais consciente e, paradoxalmente, mais visceral até agora. O babado é certo.

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A tese é clara desde a primeira passagem: esta é uma coleção sobre transformação, mas não aquela transformação limpinha, pedagógica, de livro de autoajuda. É a transformação que acontece no atrito. No metal raspado. No corpo tensionado. Na dobra. No corte enviesado. No entrelaçamento das forças contrárias. A Forca apresenta uma coleção que fala sobre crescer, errar, insistir, evoluir, persistir, girar, desequilibrar e reencontrar o centro; não como quem volta a um ponto fixo, mas como quem cria um novinho em folha. Ui ui ui, é Helyx fazendo terapia de grupo com o próprio DNA.

E essa espiral não é só estética, darling. É afetiva, política, técnica e, sobretudo, profissional. A SPFW N60 marca um ponto de virada na marca, um reposicionamento silencioso e poderoso: a Forca deixa de ser uma promessa para assumir a maturidade de um estúdio que finalmente entendeu que moda é conversa com o mundo, não monólogo de ego. E aqui há mundo de sobra. Há Brasil. Há corpo real. Há desejo. Há melancolia. Há festa. Há introspecção. Há política de gênero. Há um flerte perigoso com o fetiche. Há memória costurada com lógica industrial. Há sonho colado no suor de quem aprende a existir na pele que tem. Não é coleção para agradar. É para afirmar… Atura ou surta, bebê.

E tudo começa com a gata Aline Moraes abrindo a passarela, corpo firme, olhar certeiro, trazendo o recado logo na entrada: estamos lidando com uma alfaiataria que desaprendeu a ser obediente. Nada de shape clássico, nada de blazer seguro, nada de proporção acomodada. Há cortes que lembram linhas de aviação, há aberturas que revelam uma fragilidade calculada, há o gesto claro de que esta coleção usa a alfaiataria como laboratório. E é curioso, porque a Forca sempre flertou com esse imaginário, mas nunca com a maturidade técnica que aparece aqui. É o momento em que o discurso encontra o rigor, e isso muda o jogo, darling.

SPFW 30 anos: quando a passarela atravessa o tempo, o corpo e o caos… vem ver!

A coleção se estrutura em três movimentos principais, que se entrelaçam como uma hélice genética. O primeiro é o movimento da armadura, em que a marca testa volumes estratégicos, recortes rígidos, ombros erguidos e certa aspereza convertida em elegância. O segundo é o movimento da exposição, em que o corpo aparece em transparências, malhas coladas, texturas sensuais, brilhos que insinuam mais do que mostram. O terceiro é o movimento da interseção, onde armadura e vulnerabilidade coexistem, criando um tipo de beleza que só existe quando o corpo está disposto a ser visto e protegido ao mesmo tempo.

É nesse terceiro movimento que a coleção realmente ganha vida. Porque é ali que a Forca faz perguntas que só marcas maduras fazem: como proteger sem esconder? Como expor sem sacrificar? Como vestir desejo sem dramatizar sexualidade? Como vestir força sem performar invencibilidade? É moda que contém nuance, e nuance é sempre sinal de inteligência. Aqui, honey, a Forca mostra que não está para brincadeira.

Tecnicamente, a coleção se sustenta em uma tríade de tecidos que conversa de forma tensa e deliciosa: alfaiataria estruturada, malhas inteligentes e superfícies de brilho controlado. Não há exagero gratuito; há intenção. Os shapes alongam o corpo, mas não o aprisionam. As assimetrias são pensadas, não caóticas. A modelagem brinca com desconforto, mas sem cair na armadilha das roupas que só funcionam na passarela. É moda vestível, editorial e teatral ao mesmo tempo… uma mistura rara no mercado brasileiro, que costuma escolher apenas um dos caminhos… Abalou Bangu.

Em vários momentos, a coleção lembra a precisão de Helmut Lang, a rebeldia calculada de Haider Ackermann e um pouco da limpeza futurista de Dion Lee, mas tudo filtrado pelo temperamento brasileiro da Forca: sensualidade discreta, calor interno, suor estilizado e aquela melancolia feliz de quem aprendeu a dançar na própria sombra. Nada aqui é cópia. É linhagem. É herança. É conversa entre gerações de moda que já entenderam que força e fragilidade não são opostos; são irmãs siamesas.

A beleza acompanha essa lógica, com cabelos presos que deixam o rosto livre para a luz cortar ângulos, e maquiagens limpas que ressaltam a arquitetura óssea dos modelos. É uma beleza que não disputa com a roupa; amplifica a intenção, com beleza e cabelo sob direção da musa do House of Models, a babadeira Maxi Weber, que entende exatamente até onde pode ir sem roubar cena. E isso é um dos grandes acertos do desfile. Em tempos de TikTok, onde exagero visual vira moeda barata para viralizar, a Forca faz o movimento inverso: escolhe a contenção como rebeldia. Há coragem em não gritar… Meu Deus, me amarrota!

O styling é outro ponto de maturidade escandalosa. As sobreposições não são decorativas; são narrativas. As meias transparentes que cruzam com alfaiataria revelam uma sensualidade quieta. Os recortes que deixam pequenas frestas de pele não estão ali para viralizar no Instagram, mas para construir personagens. É o tipo de styling que ensina como as roupas querem ser lidas. É styling diretor de arte, styling dramaturgia, styling que conduz a história sem roubar a cena… tudo isso sob styling assinados por Vivian Rivaben e Silvio De Marchi, que editam cada look como se estivessem montando um filme, não apenas uma passarela. Quando a coleção chega nos blocos de tecidos brilhantes, o styling faz o movimento oposto: retira tudo o que não precisa. Deixa o brilho falar sozinho. É edição fina, raríssima no cenário nacional. Lacrou que fala, né?

O casting é um show à parte. Way Model, Joy, Ford, Prime, Hundred, Evol… A coleção ganha espessura porque a Forca escolhe corpos que não apenas vestem, mas expandem a narrativa. É impossível não notar a pluralidade corporal e étnica impecavelmente integrada. Nada parece tokenizado. Tudo parece intencional. A abertura com Aline Morais e a presença de nomes como Lucas Rozin, Sabryna Oliveira, Alicia Kuczman, Sam Porto e Rafael Fonseca mostram que a Forca entende que moda não existe sem corpos reais, com texturas reais, com histórias reais. E essa camada humana costura a coleção com mais força do que qualquer tecido técnico.

Quando a passarela entra nos looks metálicos, o clima muda. O ritmo acelera. A trilha cresce. O público endireita a postura. Há algo de mineral, de aéreo, de futurista, de cyber-romântico nesses looks. É o momento em que a Forca toca seu ápice estético: armaduras líquidas, brilhos que parecem pedra derretida, cortes que lembram alma de metal. É lindo. É forte. É preciso. É contemporâneo. É o tipo de look que faz editor de moda levantar a sobrancelha e anotar um “ui!” no caderno… Que babado.

São nesses momentos que fica claro que a Forca não está apenas apresentando uma coleção, honey Lee de Jabaquara. Está declarando um novo capítulo. O rigor aparece no corte. A poesia aparece no styling. A coragem aparece na modelagem. A ambição aparece no casting. O futuro aparece no brilho. É um desfile que entende que moda brasileira não precisa pedir desculpas para ser séria, sofisticada, experimental e global ao mesmo tempo.

Helyx, Forca e a construção de uma nova iconografia para o Brasil

Existe um momento nos desfiles em que a moda deixa de ser roupa, deixa de ser forma, deixa de ser tendência e assume seu território natural: o do mito. Foi exatamente nessa fronteira que a Forca pisou quando a coleção Helyx começou a se expandir para além da superfície. O que parecia, num primeiro olhar, mais uma busca estética de um nome jovem dentro da SPFW, revelou-se uma costura muito mais ambiciosa: a tentativa quase visceral de construir uma nova iconografia para um Brasil que ainda não sabe direito como se olhar no espelho.

O mérito da Forca, e talvez seu gesto mais audacioso nesta temporada, é assumir que a moda não existe no vácuo. Ela responde, provoca, reverbera, absorve e devolve o mundo. E a marca entende isso intuitivamente, mesmo quando tropeça, mesmo quando exagera, mesmo quando arrisca mais do que consegue segurar. Helyx não é uma coleção para ser consumida com pressa. Ela é feita para ser revisitada como se revisita um álbum que só revela seu significado na terceira audição. Há peças que vibram imediato desejo, há outras que desafiam o olhar, mas o corpo da coleção funciona como uma espiral, um organismo vivo que quer tensionar a ideia do que é vestir e do que é performar o próprio corpo.

A costura filosófica aparece de forma crua, quase como um bilhete secreto que o estilista deixou dentro da roupa. Porque existe ali uma obsessão pelo volume, pela densidade, pelo peso, por esse jogo dramático que desafia a proporção natural do corpo humano. Não é apenas estética, é posicionamento. Num Brasil que ainda fetichiza magreza, lisura, docilidade, passividade, delicadeza, a Forca vira o tabuleiro ao projetar silhuetas que deslocam o eixo visual. Ombros que parecem carregar o impacto de um país tenso, quadris que se expandem como fronteiras em expansão, cinturas que desaparecem como se recusassem as amarras coloniais da forma. A roupa cria novos centros gravitacionais, e isso é profundamente simbólico.

Há momentos em que a coleção flerta com a teatralidade, mas não a teatralidade vazia do exibicionismo: é um teatro interno, um teatro de identidade. As camadas de malha que colam no corpo não pretendem sensualizá-lo, pretendem revelar seus contornos mais humanos. O jeans ressignificado funciona quase como armadura do trabalhador contemporâneo. Os brilhos e metalizados surgem como cicatrizes expostas. Se a moda brasileira sempre oscilou entre o escapismo tropicalista e a sisudez copiada das capitais do norte, Helyx tenta construir uma terceira via: um drama íntimo, um épico do cotidiano, onde cada peça carrega um fragmento de realidade transformado em cena… Tô totalmente ligado.

A política de corpo aparece sem necessidade de slogans. O casting não se organiza como vitrine tokenista; ele se expande, respira, conversa entre si. Corpos negros, corpos indígenas, corpos masculinos tensionando feminilidades, corpos femininos assumindo força tectônica, corpos magros dividindo espaço com potências musculares, rostos que carregam ancestralidade e outros que carregam ruptura. A harmonia entre eles cria uma narrativa de pluralidade que não soa decorativa. Há verdade ali, há intenção. Num país obcecado com filtros e selfies, ver uma passarela que assume a multiplicidade como discurso central é quase um ato político, bebê!

A beleza reforça esse desejo de humanidade. Nada na maquiagem procura transformar o modelo em outra coisa. As peles naturais, a suavidade proposital do glow, os fios desalinhados, tudo aponta para uma estética que rejeita perfeição artificial. É um elogio à superfície real da pele, ao suor do mundo real, às marcas que vêm da vida vivida; e aqui, de novo, o trabalho da nossa diva mor Maxi Weber como responsável pela beleza e cabelo faz toda a diferença, calibrando a humanidade como luxo máximo. Há algo profundamente contemporâneo nisso, especialmente quando se observa o quanto o mercado global tenta empurrar padrões artificiais mascarados de naturalidade. A Forca não mascara; ela expõe. E expor hoje é um gesto revolucionário e babadeiro!

O styling, por sua vez, é o elemento que mais escancara a inteligência por trás da coleção. É ali que a construção narrativa explode. Cintos deslocados que parecem marcar trajetórias, sobreposições que simulam camadas de memória, tecidos que se torcem como se estivessem tentando se libertar de algo. O styling é a poesia concreta da coleção. Às vezes excessivo, às vezes brilhante, mas sempre intencional. Ele não quer agradar; quer provocar. A Forca entende que o styling não é acessório, é verbo. É ação. É urgência. E nisso ela se aproxima do ritmo de uma geração que pensa imagem antes de pensar palavra; com Vivian Rivaben e Silvio De Marchi conduzindo esse jogo de volumes e camadas com mão firme e olhar de cinema.

Os tecidos escolhidos reforçam essa dramaturgia. O denim usado como estrutura lembra a primeira pele do trabalhador brasileiro, enquanto as malhas elásticas criam uma sensação de abraço e tensão. Os brilhos surgem como manifestações extáticas, quase como se a coleção, por alguns segundos, entrasse em transe. Há lampejos de clubbing, lampejos de rave, lampejos de rua, lampejos de espiritualidade. E tudo isso, costurado junto, cria um mosaico de Brasil sem cair em estereótipos. Não é a brasilidade carnavalesca e fácil. É um Brasil noturno, denso, urbano, vibrando à beira do caos. Deus me free de reduzir isso a clichê…

O impacto disso tudo na vida real é mais interessante ainda. Porque, enquanto outras marcas apostam em coleções excessivamente comerciais para agradar buyers, a Forca assume que seu papel é tensionar as bordas da conversa. Mas isso não significa que a coleção não seja desejável. Ela é. Só que sua desejabilidade está ligada a uma nova geração de consumidores que buscam narrativa antes de buscar tendência. Existem peças ali prontas para editoriais, peças prontas para tapete vermelho, peças prontas para street style, e outras que funcionam perfeitamente como statement pessoal. O equilíbrio entre o experimental e o usável está presente, mas em outra frequência, uma frequência que exige leitor. Quem só quer roupa não entende Forca. Quem quer discurso, mergulha.

E mergulhar é inevitável quando se chega ao bloco final da coleção, onde a assinatura estética atinge sua forma mais expandida. O uso de brancos e prateados cria uma dimensão futurista que não se confunde com sci-fi óbvio. É mais uma ideia de futuro emocional, aquele que a gente projeta quando fecha o olho e tenta imaginar um país que deu certo. Há nas peças finais uma espécie de purificação, quase um renascimento. Depois do peso, do drama, da densidade, a coleção termina com uma respiração profunda, como quem finalmente entende que força não é só rigidez. Força também é flexibilidade, sensibilidade, luz. e claro… o lacre.

Helyx no contexto da SPFW N60 e da moda brasileira contemporânea

A coleção ganha ainda mais corpo quando colocada em perspectiva com o momento histórico do SPFW N60. Esta edição comemorativa exigia uma resposta à altura, não apenas estética, mas conceitual. Era necessário dizer algo sobre a moda brasileira hoje, sobre suas dores, suas urgências, suas contradições, seus brilhos e seus fantasmas. A Forca não apenas respondeu: ela devolveu uma narrativa que encara de frente a crise de identidade do país, a fragilidade das estruturas, o desejo latente por renovação e a exaustão generalizada diante de discursos vazios. Helyx é um antídoto contra o vazio. Não que ela ofereça respostas prontas; ela oferece perguntas. E a boa moda, a moda que fica, é sempre a moda que pergunta.

A trilha sonora ajuda a sedimentar essa leitura. Ela não se impõe como espetáculo, não tenta dominar a narrativa, mas pulsa junto das silhuetas. É uma trilha que abraça o corpo, como se marcasse o compasso interno da coleção. O som parece vir de dentro das roupas. Há uma cadência que se mistura com o movimento dos tecidos, uma vibração que acompanha o peso e a elasticidade de cada peça. A música não é pano de fundo; é câmara cardíaca. É ali que a coleção respira, falha, acelera, expande. E isso não é pouco. Quando trilha, roupa e corpo operam na mesma frequência, o desfile transcende. Deixa de ser apresentação e vira rito. Tudo isso com uma trilha sonora criada por Silenzo/Urro, com co-produção de Dany Bany e Enco, e instrumentistas ao vivo L_cio e Bica_Tocalino, que dão carne e pulso a esse universo sonoro. Abalou Bangu com sutileza… viu?

A atmosfera que se cria no espaço contribui para essa sensação de rito contemporâneo. O ambiente não assume protagonismo, mas funciona como cápsula. O foco está na roupa, no corpo, na narrativa. Não há distração. Isso permite ao espectador mergulhar no gesto micro de cada look. O caminhar lento de alguns modelos, a postura mais ereta de outros, o olhar que atravessa a passarela como se estivesse prestes a confessar um segredo. Helyx é um desfile que se vive no detalhe, no sutil, no quase invisível. E isso faz com que sua memória se fixe não apenas pelas imagens que imprimem, mas pela experiência corporal do espectador… e aqui, a Direção de desfile por Bill Macintyre segura o fio da narrativa com mão firme, criando um fluxo que mais parece ritual do que desfile.

Um dos pilares mais fascinantes da coleção é o uso da assimetria como linguagem. Nada é exatamente onde deveria estar. As sobreposições parecem ter escapado do lugar tradicional. As barras não terminam onde se espera. As peças parecem retorcidas por dentro, como se um redemoinho houvesse passado nelas. Isso cria uma sensação de movimento contínuo, quase como se a roupa estivesse sempre no processo de se transformar. Não é estática; é mutante. E este é um gesto autoral poderoso, porque materializa uma ideia de moda que conversa profundamente com o estado fluido do mundo. Nada é fixo. Nada termina. Tudo está no meio.

E se falamos de fluidez, é impossível ignorar a camada simbólica que atravessa a coleção como corrente elétrica. Helyx é um estudo sobre força e vulnerabilidade. Não força truculenta, mas força sobrevivente. Força que se aprende no corpo. Força que nasce da queda. Força que convive com rachaduras. A roupa não esconde as fissuras, ela as acentua. As costuras aparentes, os acabamentos intencionais, os drapeados torcidos, tudo confirma essa estética da imperfeição orgânica. Num mercado saturado de roupas lisas e personalidades polidas, a Forca escolhe a honestidade bruta. E isso, hoje, é radical. O babado aqui é verdadeiro, honey…(Tenho que mandar um beijo pra minha amiga Raquel Nazareth… roubei o honey dela, minha pink girl favorita)

O corpo tratado como topografia também merece destaque. A coleção entende que o corpo do século 21 é um corpo mediado por câmera, tela, lente, plataforma. Mas, em vez de se curvar a isso, ela devolve um corpo que recupera densidade, peso, textura. Um corpo que não existe só de frente. Um corpo que exige rotação. Um corpo que não cabe no enquadramento vertical de um simples story. É um corpo que desafia a imediatez, a pressa, a lógica de consumo acelerado. Helyx, de forma quase provocativa, parece dizer ao público: se você quiser me entender, vai ter que olhar mais de uma vez. E isso é raro. E isso é bonito. Deus me livre, mas quem me dera ver isso todo dia.

O diálogo com a espiritualidade aparece de maneira subterrânea, como se fosse uma vibração de fundo. Nada literal, nada folclórico, nada que reduza o sagrado à estética. Mas há uma sensação de rito, de passagem, de iniciação. As peças brancas no final funcionam como um renascimento. Os volumes que se elevam como se absorvessem energia. As estruturas que protegem o tronco como se guardassem um coração vulnerável. É como se a coleção absorvesse o trauma coletivo que o Brasil carrega e tentasse elaborar uma nova forma de existir no próprio corpo. Uma forma inteira. Uma forma forte. Uma forma possível… tupiniquim!

Casting, corpos e narrativa coletiva na passarela da Forca

E então chegamos ao casting. Não como apêndice, mas como coluna vertebral. O desfile abre com Aline Morais, e escolher uma atriz e ex modelo com essa presença para abrir o ritual não é acaso. Aline entra com uma força que parece ancorar o tom da coleção inteira… Deixou a “Maria Louca” da novela Duas Caras cair literalmente da escada, honey. Em seguida, nomes como Sam Porto, Elle Maciel, Mustafar Tchípia, Rafael Fonseca, Larissa Nascimento e Emmanuel Quoos aprofundam o discurso de pluralidade que a Forca tenta desenhar. Não são apenas corpos diversos. São presenças diferentes. São ritmos diferentes. São olhares diferentes. O casting reflete brasilidade sem cair no caricato. Ele traduz multiplicidade sem parecer checklist. Ele respira verdade.

E isso dá à coleção algo que poucas marcas conseguem construir: uma narrativa comunitária. Não é apenas o estilista dizendo algo ao público. É uma conversa entre todos os corpos envolvidos. É uma narrativa de muitos centros. Isso é muito mais potente do que qualquer slogan sobre diversidade poderia ser. É uma visão de moda que compreende que força não se constrói sozinho. Força se constrói em bando. Atura ou surta, bebê: aqui é coletivo ou nada.

Construção técnica, denim, alfaiataria e brilho: a engenharia sensível de Helyx

A coleção se aprofunda quando observada pelo prisma da construção técnica. Há um cuidado minucioso na maneira como o tecido abraça, pesa, cede e resiste. O jeans não aparece como coincidência, mas como gesto político. Colocar denim na passarela com essa dramaticidade é lembrar ao espectador que a moda brasileira nasce do trabalho, da rua, da mão que costura, da mão que levanta parede, da mão que dirige ônibus, da mão que trançou cabelo e da mão que carregou peso. A Forca resgata o jeans do desgaste comercial e o devolve ao imaginário como peça de identidade nacional. Não há Brasil sem jeans. Não há futuro da moda brasileira sem ressignificar o que já é nosso.

As malhas, por sua vez, atuam como segunda pele afetiva. Elas colam, esticam, comprimem, revelam e escondem numa coreografia harmônica. Quando a peça marca o ombro com volume, ela está dizendo algo sobre ocupar espaço. Quando ela afina a cintura com torção, está dizendo algo sobre vulnerabilidade. Quando ela desce solta até o chão, está dizendo algo sobre entrega. Cada gesto da modelagem é proposital. Nada aqui é ornamental. A roupa fala, e fala com precisão. Mesmo quando a coleção abraça a assimetria mais radical, ainda assim existe método. O caos é sempre ensaiado.

Os brilhos e prateados do final não surgem como concessão fácil à tendência global do metalizado. Eles funcionam como camada espiritual, como se o desfile inteiro estivesse preparando o terreno para esse momento de expansão luminosa. São peças que parecem carregadas de energia, quase como se fossem feitas para rituais contemporâneos. Não é o brilho hedonista dos anos 2000 e tampouco o brilho glamouroso das divas pop. É um brilho interno, quase bioluminescente. E isso traz à coleção uma poesia rara. A Forca entendeu que a luz do futuro não é LED; é ancestralidade lapidada.

O styling, nesse ponto, atua como ponte entre presente e futuro. Os arranjos de camadas, as proporções tensionadas, as apostas inesperadas na cintura, no quadril e no ombro, criam uma leitura que vai além do visual. É quase uma linguagem corporal. O styling faz o corpo falar outra língua. Ele não se contenta em acompanhar a roupa; ele a traduz. Há momentos em que o styling se impõe tanto que quase assume o protagonismo. Mas, quando isso acontece, é porque o desfile exige. Helyx não é coleção que pede suavidade. Ela pede intenção. Ela pede gesto. E o styling entrega gesto em abundância, sob um olhar seguro de que sabem exatamente quando saturar e quando conter.

A beleza, discretíssima e intencional, faz uma contranarrativa fascinante. A ausência de maquiagem pesada, o brilho natural da pele, as sobrancelhas orgânicas, os cabelos com textura real, tudo isso neutraliza e amplifica a potência das roupas ao mesmo tempo. A Forca sabe que, em 2025, a imagem facial é o primeiro campo de batalha social. Todo mundo olha para a cara antes de olhar para o look. Então, ao neutralizar o rosto, a marca desloca o olhar do espectador para o corpo como campo de significado. É uma decisão extremamente inteligente, especialmente numa era em que tudo vira thumbnail. A Forca, ironicamente, nega o thumbnail. Ela pede que o espectador olhe o conjunto. Ela pede que o público abandone a lógica do recorte.

A maneira como a coleção se move também merece leitura fina. O peso dos tecidos, o balanço das peças longas, a maneira como as sobreposições criam som, tudo contribui para um desfile que existe no movimento. Esta é uma coleção que não funciona estática. As roupas são lindas, mas é na caminhada que ela se revela. O som da barra tocando o chão. O volume que oscila como se tivesse vida própria. A torção que só se mostra completamente na virada da modelo. O corpo em Helyx está sempre em ato de transformação. Isso é tecnologia emocional. Não é sobre QR code no bolso. É sobre engenharia sensível. É sobre a roupa como criatura.

Há também uma camada afetiva muito forte que atravessa a coleção. A sensação de pertencimento, de comunidade, de corpo coletivo, de ritualidade compartilhada, tudo isso amplia o impacto do desfile. Não é moda solitária. Não é moda para o ego. É moda para o bando. É moda que se fortalece quando vista em conjunto. E isso faz total sentido quando se observa a presença de figuras como Sam Porto, cuja caminhada carrega um universo inteiro de luta e afirmação. Ou a força absoluta de Mustafar Tchípia, que caminha como quem sabe exatamente o que representa. Ou a serenidade firme de Iara Pereira. Ou a presença luminosa de Alicia Kuczman. Cada nome acrescenta uma camada de narrativa.

Quando a coleção entra em seus momentos mais experimentais, ela não perde a mão. Há riscos, sim. Há excessos, sim. Mas não há vazio. Tudo tem propósito. É a diferença entre excesso irrefletido e excesso estratégico. Helyx trabalha com saturação como linguagem. O drama não é ornamento; é matéria. A Forca entende que, para capturar o olhar de uma geração acelerada, é preciso criar imagens que sobrevivam ao scroll. Não por impacto vazio, mas por densidade simbólica. E a coleção entrega densidade em cada curva.

À medida que o desfile avança, a coleção parece ganhar uma autoconsciência rara. Como se ela percebesse que seus próprios códigos estão sendo maturados em tempo real. Helyx não é uma coleção que nasce pronta; ela nasce pulsando. Ela se reconhece no ato de existir. A cada sequência de looks, surge uma sensação quase cinematográfica de progressão narrativa. Não é apenas uma curadoria estética, é um roteiro. E esse roteiro trata a passarela como espiral, como rito de passagem, como espaço onde a roupa se transforma e transforma quem a vê. A passarela não é piso; é portal. Isso dá ao desfile uma energia dramática quase religiosa. A plateia assiste calada, como quem teme quebrar o feitiço… guiada pela Direção de desfile por Bill Macintyre, que costura tempo, ritmo e impacto com precisão de cirurgião.

Direção, produção executiva e bastidores: o rito Helyx além da passarela

O trabalho de alfaiataria merece atenção redobrada. A Forca não busca a precisão milimétrica inglesa nem o romance da alfaiataria italiana. Ela escolhe a fricção. Os blazers têm ombros que respiram, não ombros militares. As calças têm quedas que parecem coreografadas para desafiar a lógica do peso. Os coletes abrem e fecham conforme o corpo se curva. É como se a alfaiataria decidisse abandonar o dogma do engessado para abraçar a vulnerabilidade do corpo real. Isso é uma decisão estética, mas também é uma decisão política. A alfaiataria brasileira não precisa copiar a Europa para ser relevante. Ela precisa ouvir o corpo brasileiro. E Helyx faz isso com a ousadia de quem sabe que está inaugurando algo.

Os tops estruturados, especialmente aqueles que tensionam o busto e delimitam o dorso, trazem à coleção uma sensualidade nada óbvia. Não é a sensualidade performada para o olhar masculino, e sim a sensualidade do corpo que se reivindica. É uma sensualidade que nasce da postura, da arquitetura interna, da forma como a roupa pede para ser usada. A coleção convida o público a reconsiderar o erotismo não como exposição, mas como intenção. Não é pele que erotiza; é gesto. E isso coloca a Forca numa linhagem contemporânea que dialoga com designers jovens que entendem o erotismo como linguagem e não como fetiche.

Há também um rigor poético nos cortes diagonais. Eles parecem pequenas feridas abertas na superfície do tecido. São rupturas delicadas, mas persistentes. É como se a marca admitisse que não existe identidade sem fissura. Não existe construção sem fratura. Não existe beleza sem imperfeição. Essa filosofia se materializa nos recortes que deixam o ar entrar, que deixam o olhar atravessar, que transformam tecido em pele e pele em narrativa. É um trabalho de uma maturidade impressionante para uma grife tão jovem, porque não cede ao impulso de parecer perfeita. Ela prefere parecer viva.

O desfile atinge seu ápice emocional nos dois looks que amamos. Eles funcionam como síntese da coleção. A prata densa, quase líquida, que escorre pelas formas como se tivesse sido moldada ali mesmo. A construção que parece simultaneamente industrial e sagrada. O brilho que não reflete apenas luz, mas respira. É o momento em que a coleção declara sua ambição. Não quer ser bonita. Quer ser inesquecível. E consegue. Esses dois looks são o tipo de imagem que define temporada. São imagens que ficam na retina como queimadura doce. São imagens que lembram o público de por que ainda vale a pena sentar em um desfile às cinco da tarde num espaço industrial. Modas como essa devolvem sentido ao ato de assistir.

O casting é um capítulo à parte, e aqui a Forca acerta em cheio. É impossível ignorar a inteligência das escolhas feitas. Aline Morais abrir o desfile projeta imediatamente a coleção para um campo de força narrativa. Há algo na postura dela, na forma como ela articula o olhar, que anuncia que aquilo não é apenas moda; é statement. É gesto inaugural. A presença de Sam Porto, que já carrega em si uma história que atravessa a moda brasileira com impacto social, cria uma camada importante de leitura. Ele não é apenas modelo; é símbolo. A coleção ganha outra dimensão quando passa pelo corpo dele.

Alicia Kuczman, com sua força icônica e seu rosto que já parece nascer com luz própria, adiciona à coleção uma camada de sofisticação rarefeita. Ela transforma tudo o que toca em puro statement. Mustafar Tchípia, por outro lado, traz a pulsação da rua, o vigor bruto, a caminhada que diz mais que qualquer release. Nicole Gandra aparece com presença limpa e elegante, reforçando a dualidade entre força e leveza. Iara Pereira oferece firmeza silenciosa. Jessica Córes entrega texto com o corpo inteiro. Rafael Fonseca caminha como quem corta o ar. E Sabryna Oliveira, Bianca Gertz, Williany Santos, Danyllo Pery, Ian Mello, Nati dos Santos e os demais nomes completam um conjunto de corpos que não apenas vestem a roupa, mas amplificam a coleção.

A escolha por esse casting múltiplo, diverso e tecnicamente afiado é uma demonstração clara de que a Forca entende que passarela é narrativa coletiva. Uma coleção poderosa se reconhece no corpo de quem a veste. E aqui, cada corpo brilha não por vaidade, mas porque o discurso da marca exige múltiplas vozes. Não é diversidade ornamental. É diversidade estruturante. É diversidade que importa.

O efeito acumulado desses corpos é ainda mais forte quando lido em conjunto com a direção de casting, que demonstra não apenas critério estético, mas também uma sensibilidade sobre o que a moda brasileira precisa dizer neste momento. A SPFW N60 é uma edição simbólica. Sessenta temporadas não são apenas um número redondo. São a prova de que o sistema, apesar de todas as crises de relevância, ainda tem fôlego para se reinventar quando novas vozes entram na conversa. A Forca, aqui, assume um risco que poucas marcas jovens se permitem: falar com a coragem de quem acredita ter algo a acrescentar. E isso fica especialmente evidente quando a roupa se articula com a caminhada. A passarela muda a cada modelo que cruza, como se o espaço reagisse aos corpos. É coreografia involuntária, mas precisa. É direção de desfile feita com escuta, com Bill Macintyre orquestrando esse fluxo e, nos bastidores, uma Produção Executiva do Forca Studio garantindo que tudo aconteça com consistência, estrutura e fôlego. O backstage (Que eu amoooo) também lacra, mon petit.

Esse cuidado se confirma também no styling, que surge como uma espécie de cola conceitual entre os blocos da coleção. Nada parece gratuito. Cada óculos, cada pulseira pesada, cada bota, cada amarração de tiras funciona como extensão do discurso. Há momentos em que o styling provoca, tensiona e até cutuca a própria roupa, como se dissesse ao público: preste atenção, isso aqui não é apenas sobre forma, é sobre comportamento. Em outros momentos, ele se coloca a serviço da construção técnica, evidenciando a inteligência dos recortes, a engenharia dos volumes e a elegância das superfícies. Há escolhas de styling que, em mãos menos experientes, poderiam soar caricatas, mas aqui funcionam como pontuação rítmica. A coleção respira através do styling.

E é justamente nesse ponto, entre o rigor e a liberdade estética, que Helyx encontra um terreno fértil para florescer. Há uma brasilidade subterrânea que não tenta se travestir de folclore nem de clichê tropical. Ela aparece na forma como o corpo ocupa espaço. Na forma como o movimento é celebrado. Na relação com o suor, com o calor, com o brilho que lembra noite urbana, não carnaval. É uma brasilidade contemporânea, que conversa com a rua, com o after, com o metrô, com o céu de São Paulo às seis da tarde. Nada é explícito, tudo é insinuado. É assinatura.

A trilha sonora, que mistura pulsação eletrônica com atmosferas mais densas, funciona como um motor emocional para a coleção. Ela não submete a passarela ao ritmo, mas sim a acompanha como quem entende o tempo da narrativa. É trilha que não grita, mas vibra. Trilha que não tenta roubar a cena, mas fala nos intervalos. É o tipo de construção sonora que marca coleção. É o tipo de trilha que, se alguém ouvir daqui a três anos, vai lembrar desse desfile. E é isso que separa o bom do memorável.

A luz natural reforça esse entendimento. Nada de efeitos espetaculares, nada de teatralidade excessiva. A iluminação é dura, direta, quase clínica, como se o desfile dissesse: aqui está a roupa, veja como ela se comporta sem truques. Isso é coragem. Mostra maturidade. É raro ver uma marca jovem abrir mão de luz embelezadora. A Forca prefere ser honesta. O tecido revela sua textura. O brilho revela sua densidade. A alfaiataria revela suas costuras. A roupa respira sem efeito especial. Este gesto, por si só, é um posicionamento… e, de novo, ecoa uma produção bem amarrada pela Produção Executiva do Forca Studio, que segura logística, técnica e atmosfera sem se colocar na frente da coleção.

Há também uma camada simbólica que precisa ser dita. Helyx é uma coleção sobre renascer. Não no sentido espiritual instagramável, mas num sentido material, físico, concreto. É sobre costurar fragmentos, sobre dar forma ao que estava disperso, sobre transformar o que poderia ser falha em força. A marca assume que não existe pureza na moda contemporânea. Tudo é construção. Tudo é mistura. Tudo é cicatriz. E a coleção se orgulha de suas cicatrizes. Os recortes diagonais não são apenas estética. São narrativa. São feridas curadas com linha grossa. A moda brasileira, especialmente a feita por novas gerações, não nasce em berço de ouro. Nasce de improviso, de risco, de teimosia. A Forca veste essa realidade.

No que diz respeito ao diálogo com o mercado, a coleção se equilibra com surpreendente maturidade entre conceito e produto. Há peças que, claramente, vão parar nos editoriais mais interessantes das próximas temporadas. Há vestidos prateados e metalizados que funcionarão como ímãs para red carpets. Há calças de alfaiataria que já nascem prontas para street style internacional. E há tops e estruturas que, por mais difíceis que pareçam à primeira vista, carregam a centelha de desejo que buyers reconhecem na hora. A marca não cede ao comercial fácil. Mas também não despreza o fato de que moda precisa ser vendida. É uma coleção que entende a engrenagem. O babado aqui é business com alma e borogodó!

Helyx como ponto de virada para a Forca e para a SPFW N60

O impacto da coleção dentro da SPFW N60 é imediato. Helyx entra para a conversa principal da temporada não como promessa, mas como afirmação. Não é a coleção que se esconde atrás do discurso. É a coleção que entrega discurso e forma. A moda brasileira precisa desse tipo de urgência, desse tipo de sinceridade estética, desse tipo de coragem em apostar em corpos diversos, em técnicas híbridas, em sensualidade pensada e não performada. A Forca não tenta ser espelho de tendências. Tenta ser espinha dorsal de uma nova conversa.

A conclusão chega com a força de quem sabe exatamente o que fez. Helyx é um rito de passagem para a marca. Marca um antes e depois. É coleção que consolida estética, que amadurece linguagem, que amplia vocabulário. É o tipo de trabalho que dá identidade definitiva a uma grife jovem. Se a Forca estava procurando seu território no mapa da moda brasileira, encontrou. E se estava buscando provar que sabe jogar o jogo das grandes temporadas, provou. Este desfile não é apenas mais um na fila do pão, baby. É ponto de virada.

Se o futuro da marca depender dessa coragem, desse rigor técnico, dessa maturidade estética e dessa leitura sensível de mundo, então a Forca acaba de entrar oficialmente para o grupo das marcas que não apenas participam da SPFW. São marcas que ajudam a empurrar a SPFW para frente. E, nos bastidores, fica clara a operação refinada de uma equipe que vai do desenho de coleção à trilha, da passarela à Produção Executiva do Forca Studio, da beleza de Maxi Weber ao styling apurado de Vivian Rivaben e Silvio De Marchi, da direção firme de Bill Macintyre ao pulso sonoro de Silenzo/Urro, Dany Bany, Enco, L_cio e Bica_Tocalino. O conjunto segura o rojão e devolve poesia.

E isso, mon amour, é coisa que não se ensina. Se faz. Se entrega. Se vive. E Helyx vive. Com brilho. Com fissura. Com força. Com alma.

Foto: Cortesia – Forca Studio

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