Versace SS26 na era Dario Vitale: a Medusa trocou o ouro pelo Excel, mas o babado continua…

Se a moda italiana já foi sinônimo de drama operístico, desta vez ela entregou uma tragédia napolitana com toques de novela mexicana. O primeiro desfile de Dario Vitale na direção criativa da Versace, apresentado na Pinacoteca Ambrosiana durante a Semana de Moda de Milão, foi o ritual público do fim de uma dinastia. A marca da Medusa, vendida por nada menos que € 1,25 bilhão ao Prada Group, saiu oficialmente do controle da família Versace para se tornar peça-chave em um triângulo corporativo contra Paris; Prada, Miu Miu e agora Versace, alinhadas para enfrentar os gigantes franceses LVMH e Kering. Ui ui ui, mon amour, se isso não é enredo para abalar Bangu e adjacências, não sei mais o que é.

Por Fábio Lage House of Models

Donatella sai de cena, mas não desaparece

Honey Lee da Silva, durante quase três décadas, Donatella Versace reinou como soberana absoluta da Medusa, transformando passarelas em concertos pop, supermodels em santas barrocas e vestidos em arma de sedução em massa. Sua saída do posto criativo, mantendo-se como embaixadora, é tão simbólica quanto inevitável. Donatella não é apenas pessoa física, é personagem de cultura pop. Mas o Prada Group não vive de ícones, vive de estratégia. A caneta agora é de Dario Vitale, napolitano de 1983, formado no Istituto Marangoni e forjado no laboratório comercial de Miu Miu, onde passou mais de uma década afinando o discurso de juventude consumível que ajudou a consolidar Miuccia Prada como visionária.

O choque é direto: a Versace, que sempre foi o templo do excesso, agora precisa responder a planilhas e sinergias. O feudo familiar virou conglomerado. A Medusa, que petrificava com desejo, agora usa crachá, honey Lee.

Pinacoteca Ambrosiana: entre Caravaggio e cama bagunçada

O local escolhido para a estreia foi a Pinacoteca Ambrosiana, um espaço que respira história, mas que Vitale transformou em instalação performática: camas desarrumadas, objetos cotidianos, atmosfera de intimidade imperfeita. Um cenário que dizia muito: a nova Versace não chega em cena com fogos de artifício, chega com lençóis amassados e frescor doméstico. É quase um anti-Donatella. Se antes a maison fazia do show uma entrada triunfal de tapete vermelho, agora ela serve uma lasanha em prato fundo no meio do museu.

O corpo ainda é o centro, mas com pragmatismo

Nos looks, a tensão ficou explícita. Havia ecos diretos do Gianni Versace dos anos 80 e 90; jeans de cintura alta, vestidos recortados, camisas abertas na lateral, cores primárias vibrantes. O corpo continuava no centro da narrativa, só que sem aquela teatralidade orgiástica da diva Donatella. Era sensualidade disciplinada, desejo com nota fiscal.

A cada look, a gente via a corda bamba entre arquivo e inovação. O cropped bordado dourado em forma de arabescos, jogado com short jeans preto e blusa vermelha amarrada na cintura, foi um dos raros momentos em que Vitale soltou o freio: pura energia Versace remixada para a geração TikTok. Já a jaqueta bomber inflada de couro marrom combinada a uma calcinha dourada bordada parecia piada interna… entre fetiche e paródia. Se isso fosse prato, darling, era feijoada servida em bandeja de prata em pleno metrô de Nápoles.

Mas havia também a zona Miu Miu-coded”: polos risca-de-giz, alfaiataria vendável, bolsas oversize prontas para o showroom, cores saturadas combinadas de forma irônica. Bom para o caixa, menos excitante para a imaginação.

Casting: frescor estratégico com sotaque brasileiro

Nada na Versace é aleatório, nem quem abre e quem fecha. Cala Moragas inaugurou o desfile com força juvenil, Emilia Ebeling encerrou como ponto de exclamação, e no meio estava ela: Luiza Perote, brasileira que já carrega status de super new face global, escolhida para reforçar o frescor internacional da coleção. A presença do Brasil não é detalhe, né, mon petit… é sinal de inteligência de casting. Milão sabe que sem Brasil não há desejo global. Abalou Bangu, literalmente.

O público entre aplausos e planilhas

Na plateia, a energia era de exame de admissão, literalmente, bebê. Críticos anotavam com frieza, compradores já calculavam margem de venda, jornalistas oscilavam entre elogiar a revitalização e acusar a diluição. A imprensa internacional falou em “coleção segura demais”, “mais Prada que Versace”, mas também reconheceu que a maison ganhou fôlego para falar com uma geração que nunca viveu Gianni. Mas convenhamos, meu querides… o que vimos foi menos espetáculo coletivo e mais pitch corporativo.

Medusa sem escândalo

Mas não dá para fingir que não doeu: faltou escândalo. Faltou aquele Ui ui ui! que petrifica. Muitos looks pareceram remixes mornos do arquivo da marca, outros soaram derivativos de Prada e Gucci. A promessa de sustentabilidade ficou em discurso… nada de revolução material visível. A representatividade estava presente, mas protocolar, sem gesto radical. O maior risco? Transformar a Versace em apenas um braço sexy da Prada, domesticando a Medusa até tirar seu veneno.

A Versace em versão beta

E aí, mon amour, o que ficou? O debut de Dario Vitale foi mais planilha do que delírio, mais racional do que carnal. Mas foi também o primeiro capítulo de um novo jogo de poder na moda italiana. A Versace saiu do teatro pop de Donatella para o laboratório pragmático da Prada. O resultado? Uma Medusa em versão beta, testando se pode ser sexy e lucrativa ao mesmo tempo.

Não foi orgasmo coletivo, foi statement corporativo. Não foi fogo de artifício, foi fósforo aceso na penumbra. Mas atenção: reposicionamentos levam tempo. O Prada Group sabe que o desejo se constrói em ciclos. E se a primeira coleção foi mais cerebral, pode ser apenas estratégia de entrada. O importante é que agora a disputa está armada: Milão contra Paris, Versace contra a própria sombra, Dario Vitale contra a memória de Gianni Versace.

Atura ou surta, bebê: a Medusa pode ter baixado o tom, mas ainda sabe picar.
Vou vazar na braquiara, honey Lee de Chique-Chique…
Beijinhos!

Foto: Divulgação – Versace