Honey Lee do céu de tecidos… o estilista Guilherme Amorim, do Estúdio Traça, teve sua calça balonê autoral plagiada e vendida em marketplaces internacionais. Um exposed que escancara como a moda brasileira segue sem proteção, enquanto o mercado paralelo movimenta bilhões… Que babado torto!
Por Fabio Lage – House of Models

Do Google Lens ao exposed internacional
Honey Lee do Bom Retiro, me amarrota, que eu tô passado! O estilista Guilherme Amorim, do Estúdio Traça, resolveu brincar de CSI fashion no Google Lens. E o que encontrou foi o maior exposed fashion da temporada. Sua calça balonê autoral… feita em jeans reciclado pesado, com zíper metálico reforçado e barra mutante que se transforma de pantalona em balonê… estava sendo vendida em marketplaces como se fosse camiseta branca de fast-fashion. E não era só a cópia da modelagem, mon petit da 25 de Março, era também o uso escancarado da foto original da marca para empurrar réplica vagabunda. Isso não é só plágio, é contrafação com neon piscando.
“A indústria copia aquilo que mais critica. Seria tão mais fácil propor colaboração do que roubar criatividade.” – Gui Amorim
O desabafo de Gui Amorim é um diagnóstico certeiro. Num sistema em que a inovação vira commodity antes mesmo de respirar, a moda autoral brasileira é sugada e devolvida em forma de bugiganga digital.

O mercado paralelo que engole bilhões
Querides, não estamos falando de caso isolado. Segundo a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), o mercado paralelo gera prejuízos anuais de até R$ 30 bilhões. Sim, bilhões com “B” de Babado picando em neon verde dólar. Enquanto a gringa vende cópia a preço de pastel de feira, os criadores brasileiros suam pra pagar aluguel do ateliê e sobreviver no corre fashion tupiniquim.
Eis o paradoxo que ninguém gosta de encarar: celebramos moda sustentável, mas deixamos o criador sem condições mínimas de se sustentar. Sustentabilidade não é só algodão orgânico no press release, é também garantir que o artista não precise se prostituir criativamente. Moda autoral não é TikTok trend: não dá pra viralizar hoje e jogar fora amanhã.

Contrafação não é meme, é crime
No Brasil, a galera ainda confunde as coisas. Plágio é copiar ideia e se apropriar dela sem crédito. É aquela sua amiga que jura que inventou o look com meia arrastão e cropped. Já a contrafação é bem mais séria: crime previsto na Lei 9.279/96, se trata da produção industrial não autorizada de peças ou marcas registradas. No caso da calça do Estúdio Traça, temos os dois crimes de mãos dadas e ainda a cereja do bolo: a apropriação da imagem de campanha. É o combo triplo da cafonice corporativa.
“Ter meu trabalho plagiado é ao mesmo tempo injusto e uma validação incômoda: prova de desejo, mas também de exploração.” – Gui Amorim
Exploração. Essa é a palavra que atravessa a moda brasileira como faca quente na manteiga. Porque, convenhamos, darling, é sempre mais barato copiar do que criar.

O caminho legal existe (mas é um labirinto com pedágio)
Registrar um desenho industrial no INPI custa entre R$ 94 e R$ 235 por peça, garantindo exclusividade de exploração por até 25 anos. Parece acessível, né? Agora imagina registrar cada look de cada coleção. O resultado é um labirinto burocrático mais caro que champanhe em rooftop de e.
O advogado Fábio Sakurai joga a real:
“O caminho legal existe, mas é caro, burocrático e inacessível para a maioria dos estilistas independentes.”
Na prática, quem tem bala na agulha se protege, quem não tem vaza na braquiara, querides… é o famoso, se vira… O resultado? Os independentes, justamente os que carregam a bandeira da inovação, ficam expostos como carne de segunda em vitrine de açougue digital.
Não é caso isolado, é epidemia fashion
Gui Amorim não é lenda urbana, é só mais um episódio de uma epidemia fashion que insiste em se repetir. Jal Vieira já denunciou, Le Benites também, Vittor Sinistra idem. O roteiro é sempre o mesmo: criadores autorais viram isca para marketplaces e até grandes marcas, que preferem se lambuzar de cópia barata do que abrir diálogo com quem inova.
Deus me free, mas quem me dera ver o dia em que a moda brasileira dará a mesma urgência para proteger seus criadores que dá para produzir campanha de eco-friendly em cenário verdejante.

O exposed maior: sustentar quem cria
Sustentabilidade não é só matéria-prima limpa. É garantir que o artista consiga pagar boleto sem ver seu trabalho ser vendido como bugiganga. É entender que cada look carrega pesquisa, suor e identidade que não pode ser reduzida a cópia de R$ 99 com frete grátis.
A denúncia feita pela Casa de Criadores é um manifesto sobre como o Brasil trata sua criatividade. Quem consome moda brasileira precisa encarar a verdade: investir em criação autoral é investir na sobrevivência de um ecossistema inteiro.
O caso Estúdio Traça grita em alto e bom som: ou protegemos nossas cabeças pensantes ou nos resignamos a exportar ideias roubadas que voltam embaladas em caixas coloridas de marketplaces globais. Enquanto isso, estilistas independentes viram figurantes de novela repetida.
E a pergunta final é simples, mon amour de Xique-Xique: quando você clica em “comprar agora” numa cópia barata, está dizendo que o talento brasileiro não vale nada. E eu te respondo: vale, sim. Vale caro. Vale mais do que qualquer contrafação. Vale a sobrevivência de uma indústria inteira.
Esse é o House of Models, darling. O babado é certo. Atura ou surta, bebê.
Beijinhos!
Foto: João Lucas Volpati
Modelo: Quezia Mello