Nova York adora vender a ilusão de que é o centro da moda mundial. Mas sejamos sinceros, mon amour de Xique-Xique: quem segura o rojão pesado são meia dúzia de nomes que conseguem transformar silêncio em espetáculo, ausência em presença e até showroom em terremoto cultural. A Proenza Schouler é um desses nomes. Não é apenas uma marca, darling: é termômetro, é laboratório, é aquele sussurro venenoso que, de repente, vira tendência global. Atura ou surta, bebê!
Por Fábio Lage – House of Models

Proenza Schouler SS26: O Desfazer Chic Como Novo Luxo
Ui ui ui, quem esperava mais um desfile frenético no calendário da NYFW, com fotógrafos disputando espaço e modelos correndo na passarela, quebrou a cara. A Proenza Schouler decidiu sair do barulho e entrar no sussurro. O verão 2026 não foi apresentado na Broadway fashion da cidade, mas em um showroom; espaço controlado, quase clínico, onde modelos estáticas permitiam aos convidados olhar cada corte, cada fio, cada detalhe. Um statement em plena temporada: menos espetáculo, mais substância.

Rachel Scott, fundadora da Diotima, assumiu as rédeas criativas da marca depois da saída de Jack McCollough e Lazaro Hernandez, e em apenas oito dias de anúncio oficial já colocou sua digital na casa. Parece correria? É mesmo. Mas ela já vinha circulando no backstage como consultora, cutucando aqui e ali. O SS26 é, portanto, um aperitivo antes do banquete: a degustação do que vem por aí em fevereiro. E, meu Deus!, que aperitivo saboroso, mon petit de Saracuruna!

Estruturas à Mostra: Quando a Costura Vira Manifesto
O babado é certo: a ideia de desfazer virou a grande narrativa da coleção. Blazers em cinza mesclado com ombreiras expostas e bordas desfiadas funcionaram como radiografia da alfaiataria. O jacquard foi usado do avesso, expondo fios soltos que antes seriam escondidos no avesso da roupa. Aqui, o que seria “erro” vira estética, e o que seria falha vira charme. É como se Rachel dissesse: “Querides, a transparência é o novo luxo”.

Esse inacabado intencional dialoga com um passado próximo: o minimalismo americano dos anos 90, de Helmut Lang e Calvin Klein, mas temperado com a ironia caribenha que Rachel carrega na Diotima. É modernismo com gingado, arquitetura com palmeiras em chamas. Atura ou surta, bebê: não é desconstrução pela desconstrução, é desconstrução como nova gramática de poder.

Paleta de Cores: Do Vermelho Lacração ao Amarelo Amanteigado
Cromaticamente, a coleção foi uma sinfonia calculada. O vermelho apareceu incendiário em vestidos plissados que gritavam protagonismo. O branco ganhou leitura escultural, ora puro, ora amassado de propósito, como quem acordou atrasada mas continua chic. O amarelo amanteigado escorreu em drapeados dignos de red carpet. Os verdes-menta, quase aquáticos, vieram estampados de flores borradas, como memória úmida vista através de vidro embaçado. E o preto total fechou a apresentação como último suspiro, provando que, sim, o luto também pode ser tesão visual.

E meus querides, essa paleta não é só moda, é comentário cultural: o vermelho como desejo, o branco como manifesto, o verde como sonho tropical em pleno concreto nova-iorquino. É contraste, é choque, é ironia cromática… Pah!

Styling, Acessórios e Atmosfera: Ironia de Luxo
Marika-Ella Ames no styling acertou no humor: botas acima do joelho em organza translúcida escondiam e revelavam ao mesmo tempo, como véus irônicos em pleno verão. Sandálias forradas de pele lembravam que o conforto é um luxo inventado. Bolsas maxi em listras gráficas devolveram o pragmatismo nova-iorquino. Holli Smith manteve cabelos crus, quase descuidados, editorialmente desarrumados, enquanto Fara Homidi insistiu na pele limpa, nua, sem truque. O casting de Ben Grimes trouxe diversidade real, sem tokenismo, corpos e rostos que pareciam conversar com a proposta de incompletude.

E a atmosfera? Um showroom silencioso, quase espiritual, onde os convidados se inclinavam para observar texturas, recortes e superfícies. Nova York pode estar em colapso de barulho, mas ali dentro reinava um silêncio eloquente.

Showroom na Era do TikTok: Ousadia ou Suicídio Comercial?
Apresentar em showroom durante a NYFW é ato político. É recusar o espetáculo digital e trazer de volta a experiência tátil. É ir contra o algoritmo, contra a viralização barata, contra a ditadura do like. Enquanto algumas marcas despejam “momentos TikTokáveis” como foguetes sem rumo, a Proenza oferece lupa, proximidade e tempo. Atura ou surta: é slow fashion em plena era da pressa.

Com isso, Rachel Scott reposiciona a Proenza como player intelectual da temporada, em linha com movimentos artísticos de desconstrução e com a lógica de mercado que, sim, precisa de roupas que durem mais que um vídeo de 15 segundos. É uma lição em plena recessão criativa: se todo mundo está gritando, a sofisticação é sussurrar.

Comparações e Referências: O Que NY Está Tentando Ser
Se Michael Kors ainda insiste no escapismo glamurosíssimo e Thom Browne continua em sua ópera teatral em Paris, a Proenza Schouler SS26 se coloca em outro lugar: nem espetáculo, nem nostalgia, mas uma espécie de modernismo irônico. Mais próximo de Helmut Lang do que de TikTok stars, mais perto do MoMA do que do Met Gala.

Enquanto a Europa entrega moda como entretenimento, Nova York tenta se reinventar como laboratório. E nesse laboratório, Rachel Scott surge como cientista provocadora, misturando tradição Proenza com artesanato Diotima, minimalismo americano com tropicalismo caribenho. É como se Donald Judd encontrasse Louise Bourgeois em plena Quinta Avenida, e o resultado fosse vestido para uma mulher que sabe o preço do dólar mas não abre mão da ironia chic.

O Futuro da Proenza e da Moda Americana
O SS26 não é estreia, é prólogo. Mas que prólogo, mon amour! Rachel Scott foi além de um espetáculo e entregou um verdadeiro método. E esse método pode devolver à Proenza Schouler o lugar de laboratório intelectual que Nova York tanto precisa para continuar relevante diante da potência europeia.

Enquanto Paris e Milão seguem dominando o luxo como espetáculo global, Nova York encontra fôlego em pequenas rebeliões como essa. A Proenza Schouler SS26 é um grito sussurrado: não precisamos competir com a Champs-Élysées, podemos competir com a lupa. E nesse jogo, o showroom é mais explosivo do que qualquer passarela com drones.

O futuro da marca? Se o preview já mostrou coragem para expor costuras, fevereiro promete arrebentar paredes. O futuro da moda americana? Dependerá de quanto ainda estamos dispostos a olhar de perto, a ouvir o sussurro em vez do grito. Mas uma coisa é certa: abalou Bangu, mon amour, e o babado é certo.
Beijinhos!

Foto: Divulgação