Por Fabio Lage – House of Models
Ui ui ui, Mortícia de shortinho na laje! Se você achou que o gótico era aquela coisa soturna de meia estação, com Mortícia deslizando de veludo pesado pelos corredores da mansão Addams, se prepare para o exposed fashionístico do ano: o verão gótico é realidade, está entre nós e não vai vazar na braquiara tão cedo. Atura ou surta, bebê!
Wandinha foi megafone, não gênese, mon amour de Pirituba
Não me venha com o discurso preguiçoso de que a culpa é só da Wandinha. Claro, Jenna Ortega fez um serviço de marketing melhor que qualquer agência milionária, dançando de sobretudo de couro na Bondi Beach como se fosse a embaixadora do calor infernal em preto. Mas sejamos francos, darling: a menina só acendeu o estopim de um barril já abarrotado de velas pretas, corsets engatilhados e hashtags esperando para viralizar. O revival gótico vinha sendo soprado desde 2021, quando até o Pinterest cravou a macrotendência “Oh My Goth” para 2022. E não era só meme, honey… buscas por “goth business casual” dispararam +90% e até “goth baby clothes” subiu +120%. Baby gótico de fralda preta? Pois é, meu Deus! O babado é certo.

O clarão do streaming: Jenna, Gaga e o Cramps botando fogo no parquinho
Mas aí, mon petit de Borrazópolis, veio o clarão do streaming. Wednesday estreou em novembro de 2022 e em menos de uma semana explodiu todos os recordes da Netflix: 1,72 bilhão de horas vistas, 252 milhões de contas consumindo a saga da adolescente mais sarcástica da cultura pop. O TikTok pegou fogo — #WednesdayAddams já soma mais de 37 bilhões (sim, com “b” de Babado) de visualizações. A cena do baile? Patrimônio imaterial da geração Z. O impacto musical foi mensurável: “Goo Goo Muck”, do The Cramps, saiu de 2,5 mil para 134 mil streams diários nos EUA em cinco dias; um salto de 50 vezes. E “Bloody Mary”, da Lady Gaga, ressuscitou como se fosse a própria em persona de Santa Ceia pop: +415% em streams numa única semana. Quem precisa de press release quando se tem algoritmo endiabrado?

Produto e megafone: o preto viral plantado na lua cheia
Só que aqui entra o truque de mestre que muita concorrência preguiçosa não percebe: Wandinha não inventou nada, apenas colocou um megafone no que a moda, o resale e o inconsciente coletivo já estavam tramando. A série é produto do revival gótico; e ao mesmo tempo, sua maior amplificadora. É o espelho e o megafone. Ou como diria minha avó fashionista:
“Quem planta preto, colhe sombra viral.”

Barbie quem? Aqui o hit é fishnet de 196%
E o que era pra ser mais um ciclo sazonal virou uma obsessão cultural. Em 2023, enquanto o mundo se pintava de rosa com o Barbiecore, o gótico continuava desfilando de preto absoluto pelos feeds e pelas ruas. Rick Owens, sempre o padre supremo dessa missa sombria, virou símbolo de desejo: o Lyst registrou +200% em buscas pela marca, +169% em peças pretas e +196% em fishnet tops. Isso não é estética, mon amour de Jardim de Piranhas, é economia! E quando até a hosiery, a boa e velha meia-calça, vira tecido de vestido e gera um mercado projetado para US$ 62 bilhões até 2032, dá pra entender por que o preto deixou de ser exclusivo do inverno. Agora é preto ventilado, honey Lee.

Beetlejuice reloaded e as caravelas do verão sombrio
Corta para 2024: o revival de Beetlejuice trouxe a estética spooky de volta ao cinema, reacendendo a paixão por silhuetas escuras e referências fantasmagóricas. E em 2025, os veículos internacionais já cravaram o selo: Coveteur decretou a “Season of the Summer Goth”, Marie Claire apelidou o fenômeno de “Summerween”; maquiagem gótica no auge do calor, com batom preto e pele pálida… e a Byrdie embalou tudo no rótulo etéreo-boho de “Ethereal Girl Summer”. Tudo interligado, querides. O babado não é só estético, é cultural, mercadológico, espiritual e até climático… Tá bom para você?

Preto ventilado e suor fashionista: como não fritar de corset em Salvador
Sim, climático! Porque enquanto a Terra ferve em ondas de calor recordes, o varejo precisa vender preto sem matar o consumidor assado. Resultado? Transparências, cut-outs, lingeriedressing, slip dresses e microshorts pretos. A Saint Laurent apostou em tecidos ultrafinos que mais parecem meias, permitindo que o corpo respire enquanto sustenta a aura dark. Ann Demeulemeester reforçou a alfaiataria desconstruída, lace boudoir e tricôs quase teia de aranha. Rick Owens? Sempre cinematográfico, sempre entregando o “gothy elegance” que transforma qualquer passarela em ritual pagão.

Babado na Sapucaí: o gótico tropical made in SPFW
E não pense que o Brasil ficou de fora do babado. Na SPFW N59, em pleno abril de 2025, o batom preto brilhou como aposta de beleza. Quem disse que só em Londres ou Nova York se pode lacrar de preto no calor? Aqui, meu bem, o gótico tropical se manifesta em maquiagem de ponto focal… uma boca escura, um olho kohl, um cabelo úmido. Preto ventilado nos trópicos é estratégia: organza, renda, tule, transparência. O look escuro ganha respiro, a pele aparece, e o styling segura a narrativa com acessórios de ferragem, botas contrastando com vestidos leves e sandálias finas para equilibrar. Isso sim é babado forte tupiniquim!

Freud explica: o dark é terapia da geração ansiosa
Agora, vamos puxar a lupa sociológica porque aqui o jogo fica mais interessante. Pesquisas mostram que jovens recorrem a narrativas sombrias em tempos de ansiedade e incerteza. Fãs de horror, por exemplo, desenvolveram mais resiliência emocional durante a pandemia. Ou seja: o sucesso do gótico não é só estético, é psicológico. É a Geração Z transformando medo em estilo, ansiedade em performance e sarcasmo em armadura. Wandinha encarnou isso com perfeição: não é apenas preto, é preto com ironia, preto com meme, preto com ranço. Um gótico acessível, instagramável e de consumo rápido.

Goth-wash? Quando até a Hailey vira Mortícia de capri
E aqui vem a provocação houseriana: até que ponto esse “verão gótico” não virou um gótico pasteurizado, embalado a vácuo e vendido em doses homeopáticas pelo fast fashion? Ops, Oi H&M! Quando Hailey Bieber aparece de capri preta, blusa cavada e óculos estreitos, a Vogue chama de “summer goth”. Tá na Disney, né? Gótico de manual, sem o sangue, sem a lágrima preta, sem o drama que faz o estilo valer. Isso é o que eu chamo de “goth-wash”: tudo que é preto ganha selo gótico, mesmo que a aura esteja mais para minimalismo chic do que para pacto com Belzebu.

Preto commodity: drama embalado a vácuo, mas com glitter
Mas não me entenda mal: a força do “summer goth” está justamente nessa diluição estratégica. Ao permitir versões leves, frescas e até glamourosas, o gótico finalmente escapa da caricatura invernal e se instala como narrativa de longo prazo. Dos corsets que venderam como água nos marketplaces ao “Summerween” que transforma maquiagem em statement estival, o gótico agora vai além do que é estética: é commodity.

Lacrou, mon amour de Xique-Xique!
E para fechar esse papo babadeiro, vamos alinhar as peças do tabuleiro: temos Angelina Jolie nos anos 90 como madrinha original do gótico de verão; temos a passarela já recitando Addams antes da Netflix; temos Wednesday como o megafone que elevou a estética à estratosfera; temos Beetlejuice reacendendo a chama spooky; temos veículos internacionais nomeando o fenômeno em 2025; temos dados econômicos provando apetite de consumo; temos a psicologia explicando o desejo geracional; temos o Brasil reinterpretando no calor tropical. O ciclo está completo, baby!

O verão gótico não é acidente, não é modinha e não é só Jenna Ortega dançando no TikTok e Instagram. É o resultado de décadas de ressurgimentos cíclicos, de um desejo coletivo por sombra em tempos de luz tóxica, e de uma indústria que sabe como vender drama em embalagem respirável. Preto nunca foi tão quente, darling Lee de Pintópolis. Preto nunca rendeu tanto like. E se alguém ainda duvida, o babado é certo, honey: se prepare, porque até o próximo solstício, o gótico vai estar de chinelo na praia, com batom preto borrando na caipirinha e de óculos abacaxi dark da Dolce & Gabbana…
Ai que loucura… beijinhos!
Foto: Divulgação
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