Calendário Pirelli 2026: natureza em LED, aquário em estúdio e um sopro de eternidade — o retorno do ícone que moldou a fantasia da moda!

“O mito que não se compra: onde tudo começou”

Por Fábio LageHouse of Models

Ui ui ui, darling Lee de Panambi! Apertem os cintos do jatinho editorial, porque hoje a gente desembarca naquele território onde publicidade vira arte, desejo vira ritual e um “calendário” que ninguém compra continua sendo o mais cobiçado do planeta. Sim, mon petit: o The Cal™ — o famigerado Calendário Pirelli — volta em 2026 com direção visual do norueguês Sølve Sundsbø, o feiticeiro que coloca a natureza dentro de uma tela LED curva, mergulha supermodelos em aquários-monumento e, de quebra, sopra vento cinematográfico na franja de quem quiser sonhar alto. E como a gente aqui no House of Models não brinca em serviço, vamos costurar toda a história desse ícone de 1964 até agora, para entender por que essa 52ª edição é a prova de que a moda, quando quer, conversa com o tempo; e dobra o tempo quando precisa.

1964–1974: o nascimento e a primeira pausa

Começa com um plot que hoje seria impossível de replicar sem virar case de MBA. Em 1964, a subsidiária britânica da Pirelli cria um presente corporativo “para poucos e bons”. Não vende, não anuncia preço, não anuncia nada… apenas envia… um calendário. Mas não qualquer calendário com gatinhos na praia: um objeto de culto feito por fotógrafos de primeira grandeza e modelos que pareciam ter saído de uma ilha onde a gravidade foi reajustada em favor do glamour. Era vibração de Beatles, minissaia, contracultura, praia exótica e um olho clínico para perceber que, sim, a imagem podia elevar pneu a poesia. Babado? O babado é certo, darling. Tanto que em 1974, quando a crise do petróleo dá o seu “Deus me free!” e a Pirelli suspende o projeto, o mundo faz escândalo. A ausência vira notícia maior que muitos lançamentos. O mito estava fundado.

1984–1994: o retorno triunfal e a era sexy

Quando o calendário ressurge em 1984, ele volta com aquela cara de verão eterno e bronzeado technicolor que só a fotografia de moda sabe dar. A década deixa claro que o The Cal™ não quer ser só lembrado, quer ser impossível de esquecer. Os corpos, as locações, a alquimia luz-sombra: tudo flerta com o cinema. E como toda lenda que aprende a se reescrever, o calendário entra nos anos 1990 assumindo sua faceta cult. É a era das supermodelos em estado de graça, o auge do glamour coreografado por gênios — pense em Herb Ritts e seu “A Homage to Women”, em Richard Avedon afiando o clássico com fome de século XX, em Peter Lindbergh abolindo truques para instaurar um realismo emocional antes que as redes sociais inventassem o “sem filtro”.

1994–2015: supermodelos, cultura pop e diversidade controlada

A virada do milênio pisa no acelerador. Mario Testino desembarca em Nápoles com Gisele Bündchen no cast e o mundo ri porque é óbvio que o Brasil estava no mapa da Pirelli antes de muita gente saber geolocalizar. Tem Patrick Demarchelier abrindo 2005 com “O espírito do Brasil” — Ipanema, Copacabana, Naomi Campbel e Adriana Lima esculpidas por sol de catálogo e mar que parece recém-lustrado. Tem Ines & Vinoodh transformando divas de Hollywood em constelação portátil. Tem Nick Knight em 2004 colocando Catherine Deneuve e Isabella Rossellini num universo de tecnologia poética. E, num gesto que eu amo, tem Karl Lagerfeld em 2011 chamando a mitologia grega e romana para o estúdio como quem serve café para os deuses… e o House of Models deu esse furo mundial, que teve Isabeli Fontana em um fabulous casting!

2016–presente: empoderamento, narrativas e viradas conceituais

O primeiro grande terremoto ideológico deste século, porém, atende por 2016. Annie Leibovitz decide que a nudez mais revolucionária é a do currículo. Em vez de posar pele, posam trajetórias: atletas, artistas, pensadoras, executivas, aquela elite cultural que move a agulha do mundo. Serena Williams troca o smash por presença icônica, Patti Smith surge como barda da contracultura e o resto é a moda aprendendo que sensualidade também se soletra com “poder”. No ano seguinte, Peter Lindbergh devolve o close sem ornamentos: “Emotional”, com Nicole Kidman, Helen Mirren, Penélope Cruz, Uma Thurman, prova que o tempo na pele não apaga fogo no olhar. Em 2018, Tim Walker refaz “Alice no País das Maravilhas” com um elenco todo negro — Naomi, Whoopi, RuPaul — e o recado é cristalino: o cânone precisa de puxão de tapete. 2019 chega com Albert Watson e quatro narrativas de desejo e meta, de Gigi Hadid a Misty Copeland; 2020 abre o teatro de Paolo Roversi e sua Julieta múltipla — Emma Watson, Claire Foy, Rosalía, Indya Moore, Kristen Stewart — provando que o papel principal cabe em várias bocas, vários corpos, várias vozes.

A pandemia bate à porta e 2021 se suspende. Em 2022, volta com Bryan Adams e um road movie musical: Iggy Pop, Cher, St. Vincent, Grimes, Rita Ora cruzam palcos, hotéis, check-ins e solidões. 2023 é a vez de Emma Summerton escrever “cartas de amor à musa”, entendendo “musa” como potência — ciência, literatura, arte. 2024, o ghanês Prince Gyasi pinta um “Timeless” de cores saturadas e sentido expandido — entre elas, a majestade do Rei Otumfuo Osei Tutu II. E 2025 traz Ethan James Green de volta à sensualidade coreografada, um “Refresh and Reveal” que acena ao passado sem perder a consciência do presente.

2026: o laboratório do realismo mágico

Daí entramos em 2026 com Sølve Sundsbø, e aqui o jogo muda sem perder a assinatura do mito. Sundsbø é daqueles que não aceitam a natureza como cenário, mas como ideia. “Capturar emoções, instintos e estados de espírito centrais à vida humana”, diz ele — e cala a sala. Em vez de caçar a paisagem ideal, constrói a paisagem: instala uma tela LED curva gigantesca que transforma o estúdio em planeta paralelo; projeta céus em estado de euforia, florestas que cabem no abraço da câmera, pores do sol trazidos como se fossem figurinos. E o melhor: mistura isso com matéria — flores reais, fumaça, tecido que respira, água que pesa no corpo. Cinema e botânica se beijam. Realismo mágico com manual técnico. É ciência da imagem com licença poética para delirar.

O elenco como statement…

Honey Lee do Amapá, a narrativa de Sundsbø parte dos elementos clássicos — terra, água, ar, fogo e éter — não como figurinha didática, mas como metáforas do que nos move. O elenco é um statement. Esqueça a fantasia do talento recém-saído do backstage sem saber para onde olhar. Sundsbø quis experiência, presença, voz, repertório. Daí o choque de ver Tilda Swinton numa floresta que parece sussurrar em islandês; FKA twigs trocando elemento em cena e rolando na areia; Isabella Rossellini cercada de flores escolhidas por Pasolini em sonho; Venus Williams diante de uma muralha de fogo; Irina Shayk entregando beleza mesmo contra a força da máquina de vento; Gwendoline Christie encarnando drama gótico; Eva Herzigová submersa num aquário colossal; Susie Cave como espectro aquático; Adria Arjona trazendo timing contemporâneo; Du Juan abrindo espaço para narrativas asiáticas; Luisa Ranieri vibrando italianíssima entre flores e cores.

Bastidores: onde a técnica encontra o sonho

Se o elenco é uma orquestra, os bastidores são a partitura invisível. A cenografia respira com florestas “plantadas” no estúdio, tanques de vidro que desafiam cabelo e tecido, e um LED curvado que abraça o olhar do fotógrafo como horizonte móvel. É engenharia óptica a serviço da fantasia. Direção de fotografia transforma rosto em paisagem e paisagem em personagem. Styling veste a ideia. Cabelo e make coreografam movimento. E por trás de tudo, uma equipe que não aparece na foto, mas está na foto.

O The Cal™ 2026 é um tratado de fidelidade à fantasia. Ao longo de seis décadas, provou que exclusividade não é só convite, é repertório. A fantasia é direito humano básico. E a lição que fica para estilistas, fotógrafos e criativos é clara: controle não é inimigo de mistério. No The Cal™, o erro de propósito é recurso, o improviso é arte, o imprevisto é respiração.

Como eu amo um problema que não é meu. Como eu amo um calendário que não se compra, que não se mede, que não se explica direito… e que, por isso mesmo, a gente tenta explicar com todas as palavras.

E já fica a promessa mon amour de Itabira: quando as imagens forem reveladas, voltamos para o look a look do impossível…
Beijinhos!

Foto: Divulgação