Como o termo Brazilian Core vem ganhando o mundo e se solidificando como uma forte tendência internacional.
O que era hit, virou tendência super confirmada na temporada de moda parisiense, que começou com os desfiles masculinos e fecha com chave de ouro na semana de Alta Costura francesa, o termo Brazilian Core ou Brazil Aesthetic entra pela porta da frente na alta moda, com o funk brasileiro embalando o desfile da Louis Vuitton, “Sento no bico da glock”, do Dj Gabriel do Borel, Mc Lucy e MC Rogê estourou nas plataformas de streamers. Só no Spotify, o funk dos cariocas contabiliza mais de 18 milhões de ouvintes.
Outro ritmo brasileiro que fez parte da trilha do desfile da maison francesa foi o samba, que fechou o desfile da marca.
Em 2016 a Louis Vuitton armou um mega desfile no MAC, Museu de Arte Contemporânea, em Niteroi, no Rio de janeiro para mostrar ao mundo sua coleção de alto verão.
Já na Alta Costura, a house francesa Stéphane Rolland se inspirou no Brasil em sua nova coleção, cheias de referências a Oscar Niemeyer, mosaicos amazônicos e Nossa Senhora Aparecida, como inspiração para a principal peça da Alta Costura, o vestido de noiva todo dourado.
“Esta coleção é dedicada ao Brasil. Fazia tempo que queria realizar um desfile sobre o Brasil”, diz o estilista, que já fez várias visitas ao país.
De fato, é o momento mais oportuno para se falar do Brasil, ou Brazil (para os gringos) diante de Copa do Mundo, Anitta e toda cena política, verde e amarelo automaticamente vira sinônimo de tupiniquins.
As cores da bandeira brasileira cada vez mais ganha espaços em diversas áreas, escapando das tradicionais camisas da seleção brasileira de futebol, entrando em segmentos jamais visto antes, como em acessórios.
Há quem diga que a cantora Anitta é a principal influenciadora do termo e ajudou a tendência #BrazilianCore decolar ao se apresentar em um dos principais festivais dos Estados Unidos, o Coachella, em 2022, usando um look assinado pela grife italiana Roberto Cavalli, totalmente verde e amarelo.
E por falar em Anitta, a poderosa fez o Brasil rodar na cena musical internacional. A carioca de Honório Gurgel viu o gingado do funk se unir com nomes como Madonna, Maluma, Cardi B, Snoop Dogg, J. Balvin, Black Eyed Peas, Iggy Azalea… todos querendo beber um pouco da agua verde e amarela (ou seria cachaça, como disse Madonna em sua música?!).
A bolha estourou e raízes verde e amarela já começavam a crescer e Iggy Azalea lança uma musica intitulada de “Brazil”, com participação de Gloria Groove em um potente remix.
“O Brazil não conhece o Brasil!
E dessa novela eu sou vítima
A calamidade é legítima
O que me faria feliz de verdade? Vacinação e impeachment!”
Diz parte da letra da parceria musical entre duas gigantes do mercado fonográfico.
Em 2020 a grife Balenciaga lançou uma coleção inspirada no futebol, em que muitos ligam para o crescimento da tendência junto das camisas da Seleção Canarinho; estourando dois anos depois nas araras virtuais da Shein. O Brasil entrando no radar de uma jovem aspirante a gigante do varejo. Só no ano de 2021 a chinesa Shein faturou mais de US$ 2 bilhões em solo tupiniquim.
Famosa por suas estampas e por conseguir traduzir em roupas um pouco do DNA carioca, a Farm também surfou na onda do Brazilian Core, lançando uma coleção capsula inspirada nos uniformes do futebol, composto por camisetas sem mangas, ora com ombreiras, ora com típicos jargões lá do Rio, como “Caraca”, ou “Pra jogo”, assim como blusas listradas, estilo navy, onde se vê escrito “Brasil” e um poderoso abacaxi gigante estampado nas costas.
“A vontade era unir muitas etnias em uma arte só, então, além de usar as bandeiras, utilizamos também a linguagem do patchwork, juntando galões, artesanato, estampas antigas da FARM e linguagens de diferentes fontes”. Diz Carole, responsável pela estampa ‘Bandeiras’ no time da Farm Rio.
Mesmo passado as eleições no Brasil, a Seleção Brasileira não ter tido um bom resultado na competição mundial; ver a cultura brasileira e nomes como Oscar Niemeyer se tornando referências em um nicho da moda tão seletivo como a Alta Costura francesa é de fato levar para outro patamar a tendência mundial.
Saber como isso afeta de fato o brasileiro de modo geral, basta atentar ao ‘complexo de vira-lata’, uma expressão e conceito criada por Nelson Rodrigues, dramaturgo e escritor brasileiro a qual originalmente se referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, onde a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo e em pleno Maracanã.
Mas tal complexo vai muito além de uma final de competição de esportiva e escancara o narcisismo as avessas do brasileiro, onde só valoriza o que tem quando o mesmo é valorizado internacionalmente.
Por anos brasileiros residentes em favelas e guetos sempre foram menosprezados pela moda de modo geral, justamente por ter um estilo que o Brazilian Aesthetic vem tanto enaltecendo. O streetwear do povão tupiniquim é escrito com ‘S’ e não com ‘Z’.
Em sua página no Instagram, o Fashion Revolution, um movimento global sem fins lucrativos que é representado pela The Fashion Revolution Foundation e Fashion Revolution CIC com equipes em mais de 100 países ao redor do mundo; se posicionou sobre o tema:
“Na moda, esse sistema segue em prática através da apropriação cultural, que acontece quando elementos de uma cultura são deslocados do seu contexto e sentido. Assim, peças de roupas ou acessórios consideradas bregas, feias, vulgares em corpos não-brancos viram tendência quando vestidas por pessoas brancas. É impossível refletir sobre o “Brazil aesthetic” ou “Brazil core”, que indicam uma tendência de se vestir com a camiseta da nossa seleção ou com as cores da nossa bandeira, sem pensar em apropriação cultural e racismo. Por que agora se fala em tendência? Então, só é tendência quando é vestido por corpos brancos, magros e europeus, mas se é vestido por corpos periféricos, não é?”
Para a historiadora e comunicadora Giovanna Heliodoro, #BrazilianCore é uma tendência que vem de fato das favelas e só ganha visibilidade quando vista em pessoas brancas.
“Brazilcore é o nome dado para uma tendência que mais uma vez surge das favelas, mas só passa ser RECONHECIDA quando as pessoas brancas e ou da “elite da moda” passam a utilizar. Não é de hoje que entre os becos e vielas vejo muitos jovens usando camisas do Brasil ou de outros times esportivos do mundo á fora. Infelizmente quando os nossos usam é feio, brega e démodé, mas precisamos reconhecer que dentro da favela surgem muitas tendências que nem sequer são reconhecidas como moda.
Historicamente dizendo isso não é nada recente, mas por ser um ano de Copa do Mundo e de eleições, o assunto se tornou mais potente lá no Twitter. Só que é importante lembrar que a bandeira do Brasil não é partidária; é um bem coletivo que foi tomado pela direita e nós precisamos nos reapropriar disso.”
Finaliza Giovanna em comentário feito antes do início da Copa do Mundo, reforçando a importância de resgatar a simbologia da nossa bandeira e enaltecer a moda de favelas e comunidades em um país gigante e desigual como o Brasil.
Deixar um Comentário