Calvin Klein SS26: O silêncio que grita quando o minimalismo americano perde o fio da sedução

Ui ui ui, mon amour de Osasco… a Calvin Klein SS26 gritou em silêncio na NYFW, mas esqueceu o tesão no backstage. Veronica Leoni serviu roupão de spa como couture, franjas eternas estilo Teletubbies couture e underwear como tese. Resultado? Mais PowerPoint ambulante que desfile icônico.
O império ainda bomba no jeans e perfume, mas a passarela virou eco vazio. Saudade do rigor de Francisco Costa e de um corte frio que também era sexy. Tá na hora de trazer um Marc Jacobs pra colocar fogo no parquinho, porque silêncio pode ser chic… mas também pode ser o maior dos vexames. Atura ou surta, bebê… ver ver isso!

Por Fábio LageHouse of Models

A passarela em Nova York: tese ou desejo?

Mon amour de Ipanema; Calvin Klein SS26 desfilou em Nova York sob a direção criativa de Veronica Leoni e trouxe à tona um dilema que já pairava sobre a marca há anos: quando o minimalismo deixa de ser sedutor e vira apenas tese acadêmica? Ui ui ui, darling, parece seminário genérico, mas em plena passarela da NYFW. A coleção foi uma sequência de silhuetas que oscilaram entre o banal e o performático, sem nunca encontrar um meio-termo convincente.

Trench coats de couro fosco usados com tênis neon de franjas. Alfaiatarias risca de giz oversized combinadas a óculos futuristas dignos de vilão de Matrix. Vestidos em tecido plastificado amarrotado que pareciam recém-saídos da secadora da dona Lourdes. Franjas intermináveis que transformavam o corpo em escultura ambulante de drag do MAM. Robes felpudos de spa elevados a status couture… sim, mon amour, roupão de hotel agora é high fashion. Tudo isso com pontuações de underwear propositalmente exposto, como uma piscadela ao DNA histórico da marca.

Era a Calvin Klein tentando traduzir sua herança minimalista para um presente saturado de estímulos. Mas no fim, o resultado parecia mais uma apresentação de PowerPoint de intenções do que uma declaração clara de moda. O silêncio, nesse caso, gritou; mas sem eco. Atura ou surta, bebê.

O fantasma de Raf ainda assombra

É impossível assistir a essa coleção sem sentir a sombra de Raf Simons pairando sobre a marca. Sua passagem pela Calvin Klein deixou feridas abertas: intelectualismos caros que afundaram finanças, reformas de loja desastrosas e um consumidor que saiu mais confuso do que seduzido. Raf trouxe a aura da Antwerp Six, mas esqueceu que Calvin sempre foi sobre sedução americana, não tese belga.

Veronica Leoni herdou esse vácuo criativo e, apesar de esforços evidentes, parece repetir os mesmos tropeços. A SS26 reforça o problema: a Calvin Klein que já foi ícone de sensualidade pop-americana agora soa como aula teórica sobre desconstrução. O desejo… que sempre foi a força vital da marca; desaparece em meio ao barulho conceitual.

O minimalismo que esqueceu da libido

O maior problema da coleção talvez seja esse: confundir minimalismo com ausência de magnetismo. Calvin Klein, no auge, sempre soube que cortes assépticos podiam ser eróticos. Era roupa fria que ardia, alfaiataria clínica que escorria sex appeal. O mesmo valia para Helmut Lang, outro mestre desse terreno.

Na SS26, o corte frio está presente, mas sem charme. A austeridade aparece, mas sem libido. O underwear é exposto, mas de forma caricata, sem tesão. A ironia involuntária do público resumiu bem: Céline para Teletubbies. Cruel, mas certeiro. Céline para Teletubbies é a frase que define 2026, mon amour.

Minimalismo lúdico… aquele que brinca com proporções limpas sem perder equilíbrio, desejo e humanidade; é coisa rara. Poucos dominam essa equação: Phoebe Philo com sua arquitetura sensual, Nicolas di Felice na Courrèges, Pieter Mulier na Alaïa quando não se perde em exageros (ou em preservativos couture), Natalia Alaverdian na Awake Mode e Cate Holstein na Khaite, com seu romantismo melancólico. O resto? Genérico, correto e esquecível. É o famoso “roupa bonita para showroom”, darling. Infelizmente, Veronica Leoni cai nesse segundo grupo.

A superficialidade do circuito nova-iorquino

E convenhamos, honey Lee de Xique-Xique; esse desfile também é reflexo do ambiente que o cerca. A moda de Nova York vive um paradoxo cruel: por trás do verniz intelectual, o que realmente importa é status social. Quem senta na primeira fila, quem aparece no after, quem circula na foto certa. “Profundidade” virou acessório, não motor criativo. E status virou look do dia.

Nesse contexto, coleções como a SS26 florescem. São roupas que parecem intelectuais, mas que, ao olhar de perto, não dizem nada. Funcionam bem como performance de erudição, mas falham como moda que inspira, provoca ou desperta desejo. Para a cultura global, o resultado soa vazio. O silêncio aqui não é discurso, querides; é apenas eco. Ou pior: eco de eco… entendeu?

Francisco Costa: rigor perdido

Ao assistir à SS26, é inevitável lembrar de Francisco Costa. Seus moldes eram rígidos, às vezes incômodos, mas havia disciplina, rigor e domínio do material. Ele sabia construir forma e traduzir modernismo em sensualidade silenciosa. Sua Calvin Klein podia não agradar a todos, mas tinha clareza.

Comparada a ele, a coleção de Veronica Leoni parece frágil. Falta domínio técnico, sobra styling performático. A ironia é que Costa, muitas vezes criticado por sua rigidez, hoje aparece como contraponto positivo: pelo menos havia consistência. No fundo, até os moldes mais “quadrados” de Francisco pareciam esculturais diante do robe-roupão da SS26.

O império que continua intocado

Apesar de tudo isso, a Calvin Klein continua firme como império. O underwear icônico, os jeans básicos, os perfumes blockbuster; tudo isso mantém a marca no topo do consumo de massa. O paradoxo é evidente: a passarela pode ser irrelevante, mas o varejo segue bombando. Dinheiro não falta, honey.

Esse paradoxo explica a indiferença latente: a linha Collection já não precisa criar desejo para sustentar o negócio. Mas cada temporada irrelevante corrói lentamente o prestígio editorial da marca, até que reste apenas a memória do que Calvin Klein já foi. O cheiro do Obsession ainda vende, mas o show já não obceca ninguém.

O erro dos revivals com “pessoas aleatórias”

Esse dilema não é só da Calvin Klein. A moda contemporânea insiste em reviver casas icônicas colocando-as nas mãos de nomes que, com todo respeito, não têm peso cultural. São designers corretos, mas sem carisma, sem narrativa, sem magnetismo. Entregam coleções mínimas, esquecíveis, que em dois ou três shows já demonstram não ter fôlego.

Enquanto isso, os arquivos dessas casas continuam circulando no mercado de segunda mão, emocionantes, desejados, vivos. O que se lança como “novo” nunca chega à altura do passado. É um ciclo cruel: casas gigantes confiadas a pessoas que não despertam curiosidade, enquanto talentos verdadeiros permanecem escondidos em vilas, tomando café no interior da Toscana, esperando a chance de vazar na braquiara da moda.

Marc Jacobs: a hipótese visionária

E se o problema não for a Calvin Klein, mas a falta da pessoa certa para incendiá-la de novo? A hipótese mais provocativa é simples: Marc Jacobs.

Marc tem tudo que falta à Calvin hoje. Carisma, cultura pop, irreverência, senso de humor, sex appeal. É mestre em equilibrar comercial e conceitual, espetáculo e produto. Seus desfiles são eventos culturais tanto quanto apresentações de moda.

Colocar Marc Jacobs na Calvin Klein seria devolver à marca o que ela perdeu: relevância e desejo. Seria vingança simbólica contra a era Raf e um reencontro com a sensualidade pop que sempre definiu a casa. Em um mercado saturado de genéricos, Marc poderia transformar a Calvin em acontecimento novamente. Imagina, darling: Marc Jacobs pegando o logo Calvin e explodindo no Instagram. Seria o babado do século… e sonhar não custa o salário do Marc!

A visão maior: o futuro da moda americana

O caso Calvin Klein SS26 é sintoma de algo maior: a crise do minimalismo americano e a superficialidade da moda de Nova York. O revivalismo tomou o lugar da originalidade, as casas icônicas caíram em mãos inexperientes, e o circuito social sufocou a substância criativa.

Se a moda americana quiser seguir relevante, precisa resgatar sua vocação: unir clareza estética com impacto cultural. Foi isso que Calvin Klein, Donna Karan, Marc Jacobs e Helmut Lang fizeram nos anos 90. Hoje, poucas vozes ainda conseguem isso.

Minimalismo não pode ser sinônimo de ausência de desejo. Conceito não pode ser desculpa para mediocridade. A moda precisa voltar a incendiar, não apenas preencher calendário. Ou como diria o povo no fundão da fila B: “ou entrega lacre, ou dá ruim”.

O silêncio não basta

A Calvin Klein SS26 Mostrou o quanto a marca está presa entre seu passado glorioso e um presente que não emociona. Veronica Leoni tentou provar ou provocar algo, mas o que se viu foi uma coleção que mais parecia um moodboard ambulante do que uma declaração de moda.

E, no entanto, a marca segue forte, sustentada pelo consumo de massa. Talvez esse seja o maior paradoxo da indústria hoje: algumas casas podem se dar ao luxo de não empolgar na passarela, porque o varejo continua garantindo os bilhões.

Mas se a Calvin Klein quiser voltar a incendiar a cultura… e não apenas os caixas registradores; precisa de mais do que silêncio. Precisa reencontrar o corte frio que também era sexy, a austeridade que também era magnética, o minimalismo que nunca deixava de ser desejo.

Até lá, mon amour, a Calvin Klein pode continuar gritando em silêncio. Mas ninguém consegue ouvir. E cá entre nós: silêncio pode ser elegante, mas também pode ser o maior dos vexames. Atura ou surta, bebê.
Beijinhos!

O que está rolando na SS26? Ralph Lauren e Sonho Americano Reeditado… vem ver também!

Foto: Reprodução – Calvin Klein