Por Fabio Lage – House of Models
Abalou Bangu, darling! Se antes as modelos eram descobertas em aeroportos, shoppings ou esquinas de Paris, hoje o scouting mais badalado do mundo cabe na palma da mão: é só baixar o app da Vogue, enviar fotos, vídeo e um tiquinho de personalidade. É o Vogue Open Casting, o maior concurso digital da moda, que promete transformar aspirantes em estrelas editoriais da noite para o dia. Mas calma, honey Lee de Itaperuna: por trás do discurso inclusivo e democrático, existe um funil milionário de dados, marketing e branding. E é justamente nessa tensão que mora o fascínio… e o perigo do projeto.

Do mito do scout às 67 mil inscrições
O Open Casting nasceu global em 2023, recebendo mais de 67 mil candidaturas de todas as partes do mundo. Oito nomes foram escolhidos e revelados em plena Paris Fashion Week, numa festa cinematográfica com Anna Wintour, Margaret Zhang, Baz Luhrmann e outras figuras do Olimpo fashion. Entre eles, Rayan El Mahmoud, Abrar Mohamed, Mengyao Wang, Cynthia Machava, Colette Kanza, Rania Benchegra, Dulmi e Mars; rostos que saíram do anonimato digital direto para as páginas da Vogue.
E convenhamos mon petit… esse não foi apenas um gesto simbólico. Foi uma cartada editorial e mercadológica: a Condé Nast percebeu que a passarela não está só em Milão, mas também no TikTok de Accra, no feed de Nairobi e no quarto de uma garota em Boquim, Sergipe. A caça por autenticidade virou estratégia de negócios.

2025: a era femme-identifying
Agora em 2025, a terceira edição do Open Casting está aberta até 25 de agosto, exclusivamente para pessoas femme-identifying acima dos 18 anos. A inscrição é gratuita e pede um set clássico: fotos (close, meio corpo e corpo inteiro), vídeo de até um minuto e respostas de um questionário de personalidade. O júri? Uma constelação de nomes: Anna Wintour, Simon Porte Jacquemus, Ignacio “Iggy” Murillo (o Global Talent Casting Director da Vogue), editores da revista e outros gigantes que decidirão quem representa o “moderno ideal de beleza” neste ciclo.

O recorte levanta debates: por que restringir a categoria? Será um prelúdio de chamadas específicas para homens e pessoas não-binárias? Inclusão seletiva ou estratégia de segmentação? No mínimo, é combustível para conversas inflamadas — e House of Models está aqui para cutucar, mon petit tupiniquim.

Iggy Murillo: o novo olho da Vogue
Se Anna é a rainha do tabuleiro, o verdadeiro maestro desse casting atende por Ignacio Murillo. Iggy, como é chamado, é o homem que transformou a ideia em política editorial global. Ele mesmo já afirmou em podcasts que “personalidade pesa tanto quanto o look”. Traduzindo: não basta ser bonito… é preciso ter narrativa, atitude, a tal faísca de autenticidade que prende a câmera. É o zeitgeist em carne e osso: o modelo não é mais manequim, honey… é personagem.

Resultados concretos: Rayan e cia.
E não pense que os vencedores ficam só na foto de divulgação, não. Rayan El Mahmoud já estrelou editorial para a Vogue americana, foi capa da Yung Magazine (Spring 2025), apareceu em ensaios do Document Journal e lookbooks comerciais como o da Boden. De Accra para o mundo, a gata personifica o salto do Open Casting: da ficha no app para um portfólio internacional respeitável, querides!

Outro destaque é Mars, que já performou no espetáculo Vogue World: London, em 2023, e ganhou atenção pela estética híbrida entre moda e performance. Rania Benchegra, marroquina, também seguiu acumulando editoriais e é apontada como uma das apostas quentes para a temporada. Ou seja: quem entra, não entra para brincar. O selo Vogue funciona como carimbo de passaporte para campanhas, desfiles e editoriais mundo afora.

Inclusão ou growth hack?
A narrativa oficial é linda: “abrir portas para talentos que agências não enxergam”. Mas convenhamos, honey Lee de Itapeva, também é estratégia de growth da Condé Nast. O app da Vogue vira canal de tráfego global, coleta dados de milhares de jovens famintos por visibilidade e fideliza o público Gen Z e Alpha. A democracia da beleza vem embalada com CRM de luxo. Inclusão? Sim. Mas também ROI fashionista de primeira linha.

O impacto no Brasil
Aqui no Brasil, a repercussão ainda é tímida… e talvez esse seja o ponto fraco da nossa indústria. Quantas brasileiras já se inscreveram? Quantas chegaram perto? O silêncio da Vogue Brasil no incentivo ao casting é ensurdecedor. E isso pode ser a diferença entre termos uma “nova Gisele” vinda do app ou perdermos o bonde da história digital. Fica a provocação: o que falta para o Brasil usar essa vitrine global?

Um novo ideal de beleza?
A pergunta que paira no ar é: o Open Casting cria um novo ideal de beleza ou apenas consagra o que já grita nas redes sociais? Quando uma Rayan El Mahmoud ou uma Mars sobem no altar Vogue, é realmente disruptivo ou é só o mainstream absorvendo o underground? A fronteira é tênue. Mas uma coisa é certa, baby: a era das modelos inalcançáveis, esculpidas em mármore europeu, está ruindo. O futuro é plural, líquido, digital… e com bordão de abalar Paris.

Como participar (porque todo mundo vai querer tentar)
Quer testar seu close? Baixe o app da Vogue, prepare quatro fotos, grave um vídeo de até um minuto mostrando quem você é e responda o questionário. O prazo vai até 25 de agosto de 2025. Não precisa de agência, não tem taxa, mas precisa de coragem. Quem sabe o próximo rosto do mundo não está em Brasília, Recife ou Belém?
“personalidade pesa tanto quanto o look”
Dear, no fim das contas, o Vogue Open Casting é exatamente isso: um espelho dos tempos. Inclusivo até a página dois, mercadológico até a medula, poderoso como só uma Vogue consegue ser. Pode criticar, pode amar, mas é impossível ignorar. E se os finalistas de 2023 já estão em capas, editoriais e performances internacionais, o que virá da safra 2025 promete abalar ainda mais o coreto.

Então anota aí, mon amour de Xique-Xique: o futuro da moda não passa mais apenas por Milão ou Paris… passa pelo upload no app da Vogue. Atura ou surta, bebê…
Beijinhos!
Foto: Divulgação
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