Herchcovitch se reinventa entre memórias de família, logomania pop e moda acessível com design — e entrega a collab mais afetiva (e estratégica) do ano. Vem entender por que o Brasil inteiro deveria parar pra olhar essa polo com mais carinho.
Por Fabio Lage — House of Models

Se você ainda acha que camisa polo é uniforme de pai no churrasco de domingo, com direito a bermuda cargo e sandália com meia, respira, puxa uma cadeira, porque o House of Models tá aqui pra te dar aquele exposed fashionista com afeto, argumento e veneno elegante. A nova coleção da Riachuelo com Alexandre Herchcovitch e com o Mickey Mouse de penetra VIP — é o tipo de collab que une o útil, o simbólico e o comercial num mesmo cabide. Uma verdadeira aula de branding emocional com costura autoral.
De um lado, temos o gigante do fast fashion tupiniquim que busca relevância num varejo combalido e sem fôlego criativo. Do outro, o estilista que já fez desfile no cemitério, e é um dos queridinhos da SPFW, já repaginou a GOL Linhas Aéreas e já sumiu da própria marca. E no meio disso tudo, o ícone universal que não envelhece: Mickey Mouse. Essa tríade se encontra na coleção lançada no Dia dos Pais de 2025, e o resultado é tão certeiro quanto um “eu te amo” com look combinando no almoço de domingo.

A ideia por trás da collab era simples, porém ambiciosa: resgatar o ícone fashion nostálgico da Pool Legacy… sim, aquela marca que foi febre nas décadas de 80 e 90; e reimaginar suas clássicas polos com o olhar contemporâneo e simbólico de Herchcovitch. Mas como fazer isso sem virar apenas mais uma camiseta de shopping com logotipo inflado? A resposta veio com costura, casting e conceito. A coleção abraça o afeto como ponto de partida, com peças que funcionam em pais, mães, filhos e quem mais quiser desfilar estilo familiar sem parecer catálogo de foto 3×4… – I’m sorry Alicia!

Na campanha, o próprio Herchcovitch aparece com seus dois filhos, Fernando e Ben, em um abraço que mistura amor real e afetivo com uma honestidade rara nas campanhas de varejo. E ele não está sozinho: o rapper Marcelo D2 surge ao lado do filho Sain, e o ator Leandro Lima surge com o pequeno notável Toni, provando que família também é branding — e pode ser diversa, estilosa e verdadeira. A estética visual das fotos entrega leveza, autenticidade e aquele calorzinho que só boas memórias trazem. E aí já começa a vir o insight mais profundo: a coleção é menos sobre moda e mais sobre o que ela representa emocionalmente. Babado com propósito, mon amour de Atibaia.
As peças variam de R$ 59,90 a R$ 219,99 — um valor quase simbólico considerando o valor autoral embutido ali. Tem camisas polo em tons neutros e gola contrastante com o “H” de Herchcovitch em destaque. Tem blusas com mangas bufantes repaginando a estrutura da polo clássica com um quê couture-pop. Tem vestido oversized com silhueta balonê, perfeito pra quem quer atitude sem abrir mão do conforto. Tem jeans lavados com aquele corte que não marca nem folga, apenas veste. E claro, tem o Mickey: bordado, discreto, icônico. Um aceno ao imaginário coletivo que funciona tanto pro filho pequeno quanto pra tia que cresceu assistindo o Clube do Mickey na TV Manchete. A geração Z vai usar com tênis plataforma. A geração X vai usar pra buscar os filhos na escola. E as duas vão lacrar.

Mas o que poderia ter sido apenas uma operação de nostalgia com estética “fofa e vendável” se transforma em discurso político quando lembramos quem é Alexandre Herchcovitch. O estilista que sempre usou a moda como ferramenta de questionamento — seja com caveiras, saias em homens, ou desconstruções de gênero; agora fala sobre amor paterno, vínculos e afeto com a mesma força estética. E tudo isso num momento em que o Brasil vive polarizações, retrocessos e uma crise no setor de varejo que obriga as marcas a se reinventarem ou evaporarem.

E sim, o mercado precisa de coleções como essa. Porque enquanto os números mostram retração de vendas e margens achatadas nas grandes redes de moda, as collabs viraram o novo combustível do desejo. Dados recentes apontam que marcas associadas à ABVTEX (caso da Riachuelo) respondem por mais de 21% das vendas de vestuário no Brasil. Isso significa que, em tempos de orçamento curto e concorrência brutal com o e-commerce, o storytelling vira a principal costura da moda. E Alexandre costura como poucos.
No figurino, nada é gratuito. A polo básica recebe tratamento de peça de statement. O logo triangular da Pool ganha companhia de caveiras e o sobrenome HERCHCOVITCH grita na parte de trás da camisa como quem avisa: “não é só uma peça, é uma história costurada aqui, honey Lee”. O vestido marrom com manga bufante e caveira no peito é praticamente um manifesto em algodão. A camiseta branca com o Mickey bordado no peito esquerdo é mais poderosa que muito logo de grife internacional.

A coleção emociona, sim. Mas também ensina. Ensina que o design pode ser acessível. Que o afeto pode ser fashion. Que a moda brasileira ainda pulsa, mesmo num sistema varejista que precisa de fôlego. E que Alexandre Herchcovitch, com ou sem passarela, com ou sem hype, segue sendo um dos nomes mais relevantes da moda nacional. Dessa vez, não por uma provocação política ou desfile subversivo. Mas por conseguir costurar amor, memória, pop e identidade em uma polo que, por fora, parece básica… mas por dentro, carrega o DNA de uma revolução.
Herchcovitch já desfilou caveiras na cabeça, esqueletos dançantes e jaquetas de latex amazônico. Agora, ele desfila amor em algodão. E quem achar que isso é pouco, não entendeu nada sobre o futuro da moda.
Abalou Bangu, mon petit de São Cristovão.
Foto: Divulgação
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