VOGUE BRASIL 50 ANOS

Encontros que Costuram o Tempo, o Corpo e a Cultura do Brasil

Por Fábio Lage | Exclusivo para House of Models

Me vê um maiô Asa Branca, uma crônica da Constanza, um furinho de capa e uma lágrima, por favor. Tudo isso numa sacola com o logo da Vogue Brasil em dourado, porque o momento pede reverência. Pede afeto. Pede história, mon petit!

Cinquenta anos. Meia centena de primaveras impressas e digitalizadas. Um marco raro, quase mitológico, no jornalismo de moda brasileiro, darling Lee. A Vogue Brasil chega ao seu cinquentenário com uma edição que não é só comemorativa — é histórica, é afetiva, é política, é poderosa. Com sete capas estampadas por duplas icônicas de gerações, estilos e lutas distintas, a revista acerta o compasso entre memória e vanguarda com uma sinfonia de encontros. E que encontros, mon amour!

É o tipo de edição que faz você repensar tudo: seu estilo, sua idade, sua timeline e até se valeu a pena ter feito aquele curso de coolhunting em 2010. Porque enquanto uns ainda discutem se moda é arte, a Vogue Brasil está aqui, há 50 anos, desenhando a moldura e assinando a tela.

UM LOGOTIPO, MIL NARRATIVAS

Assinado pela dupla Samia Jacintho e Gustavo Piqueira, do premiado estúdio Casa Rex, o logo comemorativo dos 50 anos não é apenas um desses “cinquenta estilizado” cheios de frufrus, querides. É um grito gráfico, um design-punk com alma couture. Cada capa da edição de maio traz uma versão distinta do número 50, criada a partir do mesmo esqueleto, mas com pinceladas, texturas e cores próprias. Um símbolo camaleônico que reflete o próprio espírito da Vogue: múltipla, mutável, magnética e nada óbvia.

E convenhamos, darling Lee, esse logotipo não busca agradar a todos — busca provocar. Ele chacoalha o grid, desafia o branding e se recusa a virar um souvenir corporativo. O resultado? Uma explosão visual que costura a estética com o espírito da brasilidade contemporânea. O logo é o prelúdio visual de um conteúdo que dança entre o pop e o político, entre a memória e o movimento. Uma pequena obra de arte gráfica que já entrou para o panteão do design editorial.

AS SETE CAPAS: UMA ÓPERA EM SETE ATOS

Luiza Brunet & Rita Carreira — O Corpo em Luta

Vestidas com pretos recortados e argolas metálicas que conectam peles e discursos, Luiza Brunet e Rita Carreira representam duas gerações marcadas por cicatrizes e resistências. Luiza, a ex-símbolo sexual dos anos 80, revela um passado de abusos, do aborto aos ataques midiáticos por denunciar um relacionamento violento. Rita, com a coragem de quem amamenta no backstage de Paris, denuncia o apagamento da pauta body positive e o culto ao Ozempic.

Juntas, elas não posam — confrontam. A imagem é linda, mas o que mais brilha é o silêncio entre uma frase e outra. A beleza aqui não é photoshopada. É sobrevivida.

Xuxa & Sasha Meneghel — A Fama Herdada

A capa é etérea. Mas o papo é denso. Xuxa e Sasha Meneghel falam sobre fama, bulimia, traumas e superexposição. A rainha dos baixinhos abre feridas ao lembrar de quando a filha teve sua imagem vendida antes mesmo de escolher aparecer. Sasha, por sua vez, fala de terapia, pressão estética e cura. A Vogue aqui vira divã de luxo. E a psicanálise veste mohair.

O mais impactante? A noção de que, às vezes, o maior ato de amor é pedir perdão por ter amado demais sob os holofotes.

Erika Hilton & Silvia Braz — Moda como Político-Pop

Duas figuras que reconfiguram poder, influência e estilo. Erika Hilton veste o Congresso como quem veste um trench-coat de impacto. Silvia Braz desfila pela internet com a elegância de quem sabe que moda é trabalho, sim senhor. Ambas performam, discursam, influenciam — e sambam na cara do machismo institucional de salto agulha, mon amour.

Juntas, mostram que a indústria fashion não é superficial: é um campo de batalha de alta costura. E que não existe beleza sem voz. É a política em salto agulha. O ativismo com babyliss… viu, honey Lee? Até rimou!

Isabeli Fontana & Caroline Trentini — Longevidade como Luxo

Pernas entrelaçadas, cabelos volumosos, presenças incontestáveis. Com quase três décadas de carreira, elas conversam sobre autoestima, sustentações emocionais e pressões estéticas. Nossa top top Isabeli Fontana rememora a época em que modelos eram tratadas como cabides. Já Caroline Trentini confessa que nunca quis ser modelo, mas que virou empresária de si mesma… tá bom para você, darling?

É o encontro entre o prêt-à-porter e o prêt-à-resistir. As duas provaram que o tempo é o melhor stylist da vida, ever!

Sabrina Sato & Andrea Dellal — Estilo é Liberdade (e uma pitada de caos)

Leopardos, couro e riso largo. Sabrina Sato e Andrea Dellal falam sobre autenticidade, envelhecimento e a arte de se vesti para si. A jet-setter que recusou Karl Lagerfeld para comprar seu próprio look babadeiro da Chanel divide visão com a apresentadora que não teme expor ou se esconder.

São elas que ditam o briefing da nova elegância: menos filtro, mais atitude. E uma pitada de “não tô nem aí” sempre cai bem.

Carlinhos Brown & Ney Matogrosso — O Figurino da Alma

De um lado, turbantes e tambores. Do outro, ornamentos barrocos e voz sussurrada. Em comum? O dom de transformar o corpo em palco e a roupa em poema. Ney Matogrosso fala de Ocimar Versolato, de Carmen Miranda, da reencarnação. Carlinhos Brown filosofa sobre poesia, memória e espiritualidade.

Querido leitor… essa capa não é só uma imagem, viu! É um relicário. É para imprimir e deixar no altar.

Sonia Guajajara & Anitta — Vozes Que Rasgam o Silêncio

Vestidas de sobriedade e adornadas com propósito, a ministra Sonia Guajajara e a cantora Anitta protagonizam talvez o encontro mais inesperado e, justamente por isso, o mais necessário dessa edição histórica.

Sonia, 51 anos, ministra dos Povos Indígenas, abre a conversa dizendo que foi acusada de abandonar os filhos por se dedicar ao Brasil. Mas, como ela mesma diz: se fosse homem, diriam que era um herói em busca de sustento. Sua luta é ancestral, coletiva, espiritual. Não se trata de chegar ao topo. Trata-se de abrir caminhos para que outros cheguem. Sonia carrega os Maíras, carrega a terra, carrega a floresta. E ainda carrega o país nas costas — sem perder a ternura e o cocar, mon amour!

Anitta, 32, é pop, mas também é política. Fala de burnout, de feminismo, de saúde mental, de independência. Expõe o cansaço de quem chegou ao topo e descobriu que ali em cima também venta. Que fama sem propósito é só eco. Que rebolar é ato revolucionário. Que dançar é também denunciar, darling… atura ou surta bebê!

O papo entre elas é um statement. Sonia fala de encantados. Anitta, de autoconhecimento. Sonia denuncia o abuso das mulheres indígenas. Anitta denuncia o abuso de um sistema que cobra tudo de quem nasceu com pouco.

Sonia diz: “Não cheguei ainda”.

Anitta responde: “Chegou sim, ministra. Chegou muito!”

E a gente, do House of Models, confirma: essa capa é um portal. É para moldurar. É para aplaudir de pé, mon amour. Porque quando uma indígena e uma funkeira se encontram com afeto, lucidez e coragem, o Brasil se olha no espelho — e talvez se enxergue melhor.

ENTREVISTAS PARA GUARDAR NA MEMÓRIA (E NO PRINT SCREEN)

Cada conversa publicada nessa edição é um mini-documentário disfarçado de editorial. São trocas que cruzam maternidade, trabalho, militância, dores e delícias de se fazer presente em um país que ainda ensaia se vai valorizar seus ícones em vida ou continuar matando-os de burnout.

Nos emocionamos com Xuxa assumindo suas inseguranças e arrependimentos estéticos. Nos reconhecemos nas palavras de Sasha sobre a pressão de “ser” o que esperavam dela. Ficamos em silêncio com os relatos de Luiza sobre violência e com a postura firme de Rita ao denunciar o mercado que abandona pautas corporais como se fossem tendências de TikTok.

Erika e Silvia dão um show de lucidez sobre a economia da moda, a visibilidade trans e a importância do engajamento político com identidade. Isabeli e Trentini nos mostram que a longevidade é resultado de um trabalho constante de reconstrução. E quando Ney e Brown filosofam sobre reencarnação e figurino como extensão da alma, entendemos: a moda brasileira é também um culto tupiniquim babadeiro.

UM TESTEMUNHO PESSOAL: A VOGUE NA MINHA VIDA

Saindo do script — mas antes de tudo: sou Fábio Lage, que vos escreve com a emoção de quem já foi aquele menino gay que lia Vogue escondido, com as páginas coladas de tanto sonhar, e o coração colado no desejo de um dia fazer parte desse universo. Lia e relia as colunas da Costanza Pascolato com um dicionário do lado, sonhando em um dia entender tudo — e, se possível, escrever igual. Devorei as colunas da Erika Palomino até virar estilo. Decorei desfiles como quem decora orações. E sim, liguei para a redação da revista, em plena era Orkut, só para tentar descobrir a cover girl do mês. Às vezes acertava. Outras, era só blefe. Mas sempre valia a emoção jornalística.

Hoje, ver a Vogue Brasil completar 50 anos é como ver a diva que te inspirou vencer mais um round contra o tempo, os haters e o algoritmo. Uma diva que te ensinou a pensar moda com cérebro e com sangue. Que moldou minha escrita, minha coragem e parte da minha fé no jornalismo de moda.

Já tive a honra de colaborar com a versão online da revista. E, sinceramente, espero que essa edição histórica seja lida por cada nova geração que acha que moda começou no Instagram. A Vogue ensina que moda é antes, é além, é eterna.

FIM? NUNCA. A VOGUE É INFINITA

Mon amour, nesta edição de maio de 2025, a Vogue Brasil não trouxe apenas seções de beleza ou lifestyle. Trouxe algo maior, darling: humanidade com styling. Trouxe conversas que atravessam o tempo como boas costuras atravessam gerações.

Porque moda é isso: uma linguagem que costura o indivíduo ao coletivo, a história ao agora, o corpo ao tempo. Parabéns, Vogue Brasil. Por seguir relevante, instigante e profundamente humana. Que venham mais 50 anos de encontros. E que sigamos de olhos bem abertos, coração batendo forte e vocabulário afiado.

Porque a moda não dorme. E a gente também não, mon amour!

Atura ou surta, darling. A Vogue é eterna. E nós? Seguimos de salto alto na resistência.