Brasilero deixa sua marca com “Rastro”: o desfile que costurou memória e ficção científica na Casa de Portugal!

Por Fábio Lage | House of Models

Darling Lee do céu… quando o sino invisível da ancestralidade tocou no salão da Casa de Portugal, o bairro da Liberdade não entendeu de imediato. Mas nós sabíamos: ali nascia um novo marco para a moda brasileira.

O evento Made in Nordeste, em sua segunda edição, poderia ter seguido um roteiro protocolar, mas preferiu bater o tambor. E quando a marca Brasilero entrou em cena com a coleção “Rastro”, foi como se o chão tremesse sob nossos pés.

Se você estava lá, mon amour, já sabe… Se não estava… senta, mon chéri. Porque o House of Models vai te contar com todos os detalhes — e com aquele DNA houseriano que só a gente sabe costurar os babados!

A dupla Marco Antônio e Rafael Paiva não brinca em serviço. Também não romantiza regionalismo com filtro sépia. Eles fizeram as malas em janeiro de 2024 e foram ao Ceará com a intenção de ouvir com o corpo inteiro. E voltaram de lá com o coração batendo na palma da mão — prontos para transformá-lo em uma coleção babadeira.

“Rastro” é isso meus querides: um desfile-statement que começa com o barro nos pés… e termina com o cosmos nos ombros.
Um rito que percorre os caminhos de quem veio antes… e deixa uma trilha acesa pra quem vem depois.

Antes de qualquer look invadir o salão, o mestre João Braga já havia iniciado o transe com uma aula-palestra sobre o papel do Nordeste na história da moda nacional. E enquanto ele falava sobre saberes populares, silhuetas esquecidas e o estilo que resistiu ao apagamento… o público parecia se alinhar energeticamente com o que viria a seguir.

E o que veio?
Foi impacto.
Foi encantamento.
Foi — como dizem no Nordeste — de deixar o queixo batendo no chão.

O primeiro visual entrou como quem pede licença… e já senta na janela.
Um vinil azul-bebê, clínico, reto, duro como quem vem da guerra. Sem mangas. Sem babados. Sem concessões. A luz batia e devolvia um reflexo que parecia coisa de nave espacial… Babadeiro!

Mas o que parecia um delírio sci-fi… era, na verdade, uma crítica.
Ao olhar exotizante. À moda da seca. Ao regionalismo fácil.

Brasilero abriu os trabalhos com uma cápsula de proteção. Um útero em formato de colete. Um escudo pra quem vive no corpo a batalha do pertencimento.

Em seguida, a passarela virou um templo geométrico.

Cilindros de veludo quadriculado engoliam torsos. Modelos andavam com o pescoço à mostra e o busto escondido.
As formas? Brutais, darling!
Os tecidos? Nobres, mon amour!

Era como se Niemeyer tivesse encarnado nas costureiras de Juazeiro.
Uma arquitetura de protesto e ternura. Porque sim, o volume pode ser afeto.
E se os modelos pareciam erguidos como totens, é porque estavam mesmo: carregando sobre si a história de suas avós… O desfile virava altar fashion, baby!

Eis que surge um respiro…

Um vestido translúcido, azul como céu depois da chuva, flutuava.
A gola, moldada em espuma, lembrava uma meia-lua… ou o casco de uma tartaruga sagrada.
A passarela virou rio.
O caminhar virou reza.
A roupa virou vento.

Quem olhou com atenção viu: aquilo não era leveza.
Era inteligência emocional em forma de organza.

A dramaturgia do desfile seguia, e a paleta de cores aprofundava.
O verde, que poderia remeter à esperança, aqui era solo. Era folha. Era couro vegetal.
Camadas sobre camadas formavam vestidos que lembravam flores carnívoras.

Mas aqui, a devoração era simbólica: quem vestia Brasilero devorava as ideias prontas. As formas orgânicas ganhavam dureza… E os babados? Viravam escamas.
A textura dava coice na monotonia!

E a plateia?
Emudecida.

Vinham então os recortes quase nus… Coletes sem calças. Vinil moldado em estruturas que deixavam o corpo falar. Ombros livres, coxas à mostra — mas tudo com a solenidade de quem sabe: sensualidade também é política meus amores!

O corpo que veste Brasilero não pede aprovação.
Ele impõe presença.

E se o desfile flertava com o silêncio, a trilha sonora mergulhava no transe.
Camadas eletrônicas se misturavam a tambores gravados no próprio sertão.
Nada aqui era fake.
Nem o ritmo. Nem o discurso. Nem o styling babadeiro!

A beleza era assinada com mão firme… Cabelos naturais.
Maquiagem que revelava ao invés de cobrir.
Sapatos rústicos, típicos do nordeste brasileiro, com o peso de quem pisa com intenção e propriedade.

Tudo falava.
Tudo cantava.

Darling Lee, as últimas passagens pareciam anunciar uma despedida em câmera lenta.
Vestidos de transparência ondulante.
Tecidos leves como cafuné de vó.
Golas que mais pareciam auréolas suspensas.

A silhueta ficava etérea, como se os corpos levitassem depois de tanto peso.

E nesse momento final… o que restava na passarela era o próprio título da coleção: um rastro… Invisível, mas sentido. Intocável, mas presente.

“Rastro” foi, acima de tudo, um desfile de fé na moda tupiniquim.
Fé no poder da roupa como discurso.
Fé na costura como ferramenta de revolução.
Fé no Nordeste como bússola estética do Brasil.

A dupla da Brasilero não foi ao Ceará atrás de inspiração… Foi em busca de conexão, honey!
E voltou costurando memória, barro, suor, vinil, veludo e véu com maestria.

O House of Models testemunhou… Sentiu… E agora registra: Essa coleção não só abalou Bangu, mon chéri… Como também abriu portais.

Porque, mon amour do céu… Quando o Nordeste resolve desfilar com intenção,
o resto do país só tem uma opção: aplaudir de pé — e torcer pra conseguir acompanhar o rastro.

Foto: @aivanmoura