MISCI – “O Culto a Si”: quando Tieta desce da serra para derrubar a moda brasileira!

MISCI Coleção TIETA Verão 26 foto @Ze_Takahashi

Por Fábio LageHouse of Models

“Quem nasceu para ser vento não se contenta em ser brisa.”

Foi nesse clima de vendaval solar que a Misci invadiu a Fundação Bienal de São Paulo no dia 24 de abril de 2025.
Sob um calor de 30 graus, Airon Martin transformou seu desfile de Inverno 2025, batizado de “O Culto a Si”, em muito mais do que uma apresentação de moda: foi um ritual de identidade, um abraço coletivo nas raízes brasileiras e uma cutucada certeira em quem ainda acha que “brasilidade” é só colocar folhinha de bananeira na estampa.

2024 all rights reserved

Se alguém duvidava da força da Misci no cenário da moda contemporânea, mon amour, saiu de lá convertida.
O culto à liberdade, à técnica apurada, à ancestralidade e ao deboche tropical estava instaurado.

2024 all rights reserved

E como bem ensinou Tieta, a grande musa do desfile:

2024 all rights reserved

“Vim para escandalizar mesmo! Quem não gostou, que reze.”

2024 all rights reserved

Um conceito que é tapa de luva

Inspirado na obra “Tieta do Agreste” de Jorge Amado e no impacto popular da novela da Globo, Airon Martin perguntou ao público: quem seria Tieta hoje?
A resposta veio em looks que misturavam tradição e futuro, sensualidade e força, doçura e rebeldia em moda pura, chéri!
Era a mulher livre, era o homem que rebola sem culpa, era o corpo que foge da norma, era o orgulho de ser quem se é.
Era o Brasil real, sem filtro, atravessando a passarela com areia nos pés e fogo no olhar.

2024 all rights reserved

E para selar o pacto, a própria Betty Faria, a eterna Tieta, brilhou ao lado de Airon no encerramento, abençoando o desfile com sua aura histórica e sua risada de quem nunca pediu licença para existir.

2024 all rights reserved

“O povo fala, o povo inventa, mas quem vive sou eu!”

2024 all rights reserved

— e foi exatamente isso que o desfile nos lembrou: viver é um ato de coragem e culto ao próprio ser.

2024 all rights reserved

Uma cenografia quente como o sertão

A Fundação Bienal de São Paulo, normalmente fria e minimalista, foi transformada num pedaço ardente de Mangue Seco.
A areia cobriu o chão, refletindo o calor tropical nos corpos dourados dos modelos.
O cenário era seco, mas a emoção era líquida.
O sol batia forte pelas janelas abertas, como uma bênção agreste, reforçando o contraste entre natureza bruta e moda refinada.

2024 all rights reserved

A trilha sonora, assinada pelo coletivo Ubuntu, misturava batidas eletrônicas, forró estilizado, samba-reggae e house music, criando um ambiente em que nem a primeira fila de celebridades conseguiu ficar parada.
Era rave, era romaria, era carnaval antecipado: o sertão dançando dentro do concreto da metrópole.

2024 all rights reserved

“A areia pode cobrir meus pés, mas nunca minha cabeça!”

2024 all rights reserved

— e foi exatamente com essa cabeça erguida que a Misci marchou sobre a Bienal.

Misci- Tieta Verão 2026 Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

As roupas: uma aula magna de design autoral

Airon Martin deixou de lado as estampas exuberantes para provar que a alma da Misci vai muito além do visual.
O que dominou a coleção foi a construção impecável, a escolha cirúrgica dos materiais e a execução artesanal elevada ao nível do sublime.

2024 all rights reserved

O couro de pirarucu, tratado artesanalmente, moldava blazers e saias que pareciam surgir do próprio sertão.
O látex amazônico da DaTribu apareceu em corsets estruturados e vestidos justos, desafiando o calor com elegância escultural.
O couro vegetal “Pelle Verde”, sustentável e luxuoso, mostrava que inovação e tradição podem — e devem — andar juntas.

2024 all rights reserved

O crochê, trabalhado pelas mãos de artesãs da Casa das Bordadeiras e das Rendeiras de Alcaçuz, surgia desconstruído, em tramas abertas que rasgavam o visual como ventanias.
Nada era literal.
Nada era gratuito.
Tudo pulsava autenticidade, mon amour… tá bom pra você?

2024 all rights reserved

As lãs italianas em marrom queimado cortadas em alfaiataria irrepreensível mostravam que a Misci agora briga de igual para igual com qualquer grande maison europeia.
E os cortes cut-out, aplicados com precisão quase cirúrgica, diziam: a pele é nossa, a história é nossa, o culto é nosso.

Cada look, um escândalo!

Cada look parecia saído de um altar fashion onde a fé era no próprio corpo e na própria terra.

2024 all rights reserved

Modelos surgiram com alfaiatarias desconstruídas, em proporções oversized que mantinham a elegância como quem segura o balançar do corpo com destreza de mestre de samba.
Vestidos esculturais em branco puro desenhavam curvas com cortes assimétricos, desafiando a gravidade e brincando com luz e sombra como só quem conhece a luz do sertão pode fazer, darling Lee!

2024 all rights reserved

Os crochês verdes rasgados, que revelavam pedaços de pele em tramas irregulares, surgiam como metáforas visuais de uma Tieta moderna: ferida, viva, linda e invencível ao mundo dominado por tecnologias.

2024 all rights reserved

As mangas extralongas, as barras que varriam o chão, e os corpos livres de molduras estreitas criavam uma imagem de brasilidade nova: solar, sensual e sem pedir desculpas… é do babado!

Quem brilhou na passarela

2024 all rights reserved

Laís Ribeiro, musa da resistência brasileira, fechou o desfile como quem carrega toda a ancestralidade nordestina no quadril e ainda pisa firme com salto agulha no chão da Bienal.
Poucos meses depois de dar à luz, surgiu mais forte, mais bela, mais Tieta do que nunca.

MISCI Coleção TIETA Verão 26 foto @Ze_Takahashi

E, claro, o momento apoteótico: Betty Faria, nossa eterna Tieta, atravessou a passarela como a encarnação da rebeldia elegante que atravessa gerações.
(No fundo, todo mundo tem um pouco de Tieta… só falta coragem!)

Misci, o culto é real!

Airon Martin mostrou que a moda brasileira não precisa gritar para ser ouvida.
Ela precisa apenas falar com a alma.
E foi isso que a Misci entregou: uma coleção para vestir o espírito, não só o corpo.

Misci- Tieta Verão 2026 Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

Enquanto muitas marcas tentam pasteurizar a identidade brasileira, a Misci a celebra com força, com ginga e com técnica refinada.

2024 all rights reserved

E a gente, aqui do House of Models, tira o chapéu de palha, calça o salto e aplaude de pé:
Tieta voltou. E ela veste Misci.

MISCI – Coleção TIETA – Verão 26 – Foto @Ze_Takahashi

“Quem quiser que me aguente!”

MISCI – Coleção TIETA – Verão 26 – Foto @Ze_Takahashi

Atura ou surta, bebê!

Foto: Zé Takahashi