Preparem os ouvidos e o espírito, mon amour, porque quando Dandara Queiroz canta, a água se movimenta e a ancestralidade sussurra. Neste 19 de abril, data em que se celebra o Dia dos Povos Indígenas, a atriz, modelo e agora cantora Dandara Queiroz estreou sua primeira canção autoral, ‘Yara’, mergulhando de cabeça em sua conexão com a natureza e com suas raízes originárias.
A música — já disponível nas principais plataformas — é uma homenagem à entidade das águas da tradição Tupi-Guarani, e nasce como extensão de um processo pessoal e espiritual da artista.
“Minha relação com a música começou quando fiz Falas da Terra (seriado da TV Globo), onde interpretei Josy, uma rapper indígena que morava na aldeia. Desde então, comecei a arte de compor, tomei gosto em fazer aquilo, e não parei mais”, conta Dandara.
O nascimento de ‘Yara’ é também coletivo: Bibi Cavalcante, compositora responsável pelas trilhas de Falas da Terra, acompanhou a artista nesse mergulho poético-sonoro.
“Quando eu estava escrevendo Yara, ainda em formato de poesia, ela somou comigo pra aperfeiçoar e tornar aquelas palavras nesse som tão lindo”, relembra Dandara.
“Com tantas vivências e aprendizados, direcionei minhas músicas para a forma que eu via a vida, minha perspectiva sobre tudo que eu aprendia, sobre os conhecimentos ancestrais e a sabedoria que adquiri nas imersões em aldeias e viagens. Comecei com poemas e senti que eles tinham potência para se tornar músicas. Yara foi uma das primeiras músicas que criei nesse processo. Ela é muito preciosa, pois fala sobre a minha relação com a água, o respeito que tenho por esse ser que é visto como um espírito pelo meu povo”, completa.
E ela vai fundo, mon amour: “Yara é uma entidade indígena muito importante na visão Tupi Guarani. Sempre ouvi falar de suas histórias em volta da fogueira, em momentos de praticar nossa fé, como uma entidade sagrada da água. Ela protege nossos rios e lagos, fortalece as mulheres e também é provedora do que comemos e bebemos. Sem seu espírito não há vida. Então, escrever essa música foi uma forma de trazer as águas pra perto de mim quando eu não posso estar em contato com a natureza de forma física.”
E quando a arte ecoa com essa força, não é só canção — é um portal. “Essa música é como um banho de cachoeira, um mergulho no mar, um chá quentinho, uma garoa que cobre a terra. É a presença da água em forma de som”, finaliza.
Dandara, vale lembrar, é uma potência em mutação constante. Aposta da Rede Globo, ela acaba de estrear como Benvinda, personagem da novela No Rancho Fundo. Antes disso, protagonizou o episódio especial Falas da Terra – Histórias Impossíveis, também voltado à valorização dos povos originários. Agora, parte para o comando do novo programa ‘Planeta Menos 1 Lixo’, no Globoplay e no canal Futura, com foco em consumo consciente e educação ambiental — tudo atravessado por um olhar proativo e ancestral.
Mas antes do protagonismo televisivo, ela já era queridinha das passarelas e dos editoriais de peso. Recordista de desfiles na SPFW 2022, brilhou no circuito internacional, estampou capas de Vogue e Elle, e protagonizou campanhas para marcas como Lancôme, dividindo os holofotes com ninguém menos que Zendaya.
Criada em Três Lagoas (MS), aos 27 anos, Dandara se engaja em lutas reais: atua ao lado de lideranças indígenas em ações coletivas por inclusão e representatividade, e carrega consigo a missão de honrar suas origens em cada espaço que ocupa. “É extremamente necessário dar visibilidade à cultura indígena, à identidade de toda comunidade. Procuro fazer isso através das pinturas, da atuação, da música, da moda, do artesanato… através de todo espaço que eu ocupar”, diz.
Nas redes sociais, compartilha seu cotidiano de lutas, rituais e criações. Exibe com orgulho as pinturas corporais feitas com jenipapo e urucum, confecciona amuletos de proteção, e imprime sua identidade em cada gesto, cada som, cada fala.
‘Yara’ é o batismo sonoro de uma artista que transborda de memória e propósito. E no som das águas, Dandara canta também por um Brasil que precisa, mais do que nunca, ouvir — e respeitar.
