Por Fabio Lage – House of Models
Pah! Foi com um tapa bem dado na caretice que Fábio Souza jogou na passarela uma das coleções mais afiadas, sexy e politicamente deliciosas da temporada. Se a SPFW fosse reality show, À La Garçonne teria ganho prova do líder, imunidade e ainda teria eliminado uns cinco looks alheios só com o poder do styling.

No desfile apresentado nesta edição N59 da São Paulo Fashion Week, a marca entregou uma verdadeira aula de como revisitar um DNA sem cair na reciclagem preguiçosa. E sim, Fábio continua usando tecidos de estoque morto — mas a única coisa morta aqui foi a monotonia da moda nacional. Porque o que vimos foi vida, energia, presença e um desfile que, se fosse playlist, ia do punk à rave sem perder o salto.

Xadrez, alfaiataria e a elegância do colapso urbano
Começamos com o clássico revisitado: ternos xadrez que alternam entre o cinza sisudo e o rosa choque de quem já superou o luto e agora quer brilhar. Alfaiataria oversized no ponto certo — sem parecer roupa emprestada do avô nem cosplay de editorial europeu. As silhuetas femininas trouxeram cinturas bem marcadas e quadris em evidência, tudo na medida do sexy estratégico, daquele tipo que respira fundo e diz: “Me nota. Ou passa mal.”

Militarismo fashion: das trincheiras direto para o rolê
E aí vieram elas: parkas, casacos com gola de pelo, jaquetas que parecem abraços brutos. O verde oliva reinou em contraste com bronze e camuflados que mais parecem obras gráficas. Mas esquece o exército. Essa estética aqui é de guerra estética mesmo — a luta pelo direito de se vestir com personalidade em meio à mesmice instagramável.

Lingerie à mostra e sem pudor, como tem que ser
O fetiche desceu à passarela com sutiãs de renda usados como peça principal, vestidos com transparência cirúrgica e fendas que ignoram completamente o limite do bom comportamento. Aqui o corpo não é vitrine: é argumento. À La Garçonne desafiou qualquer moralismo de rede social com peças que dizem “sou sexy, e daí?”.

Cetim roxo, pelúcia punk e jaquetas dramáticas
Teve cetim roxo brilhando como papel laminado de presente de luxo, casacos quadriculados com textura de couro e mangas que se mexem com drama. A jaqueta perfecto apareceu alongada, reinventada, pronta para virar personagem de série distópica fashionista. Tudo era tátil, tudo dava vontade de tocar. E tudo, claro, tinha presença.

Corsets e vestidos que encerraram como tapa na cara do tédio
Os vestidos finais foram puro grito. Corsets com saias esvoaçantes, rendas vermelhas e pretas, transparências e tecidos que pareciam ter sido desenhados sob medida para a personagem principal de qualquer história. Mel Freire encerrou com poder. Liya Santos abriu com elegância imbatível. Entre elas? Um exército de estilo e identidade.

Casting e beleza: um desfile que representou com vontade
Celso Kamura assinou a beleza — e não economizou em impacto. Na passarela, nomes como Sandro de Jesus, Gabriela Medeiros, Sabrina Sachser, Gabriel Alencar, Isabel Hickman, Helena Roehe, Lana Santucci, Maria Freire, Kokama, Flavia Fontanetti, Selena e Kayky Oliveira deram corpo à coleção. E que corpos! Pluralidade verdadeira, expressividade na pele, no andar e no olhar.

Beleza assinada por Kamura: poder no olhar, atitude no traço
Celso Kamura não brinca em serviço — ele assina. E no desfile da À La Garçonne, sua beleza foi um capítulo à parte. Pele com acabamento natural mas com presença, sobrancelhas marcadas com intenção, e olhos que pareciam mirar o futuro com um delineado preciso e nada óbvio. O cabelo seguiu o mood da coleção: ora estruturado, ora com ar de quem acordou assim depois de uma rave conceitual. A beleza era sóbria, mas com atitude — como se cada rosto dissesse: “não preciso de muito pra dizer tudo”. Um visual que complementava a roupa sem competir com ela. E isso, mon amour, é pura alquimia estética.

Desfile ou delírio fashion coletivo?
À La Garçonne apresentou um estado de espírito. Foi um statement de passarela, uma ode à liberdade estética, à sensualidade com inteligência e à moda que não pede desculpas. E como Fábio Souza não dá nome às coleções, a gente nomeia com gosto: essa foi a “coleção do soco fashion com luva de pelúcia”.

A plateia aplaudiu. O House of Models viveu. E você? Vai continuar usando bege?
Foto: Ag. Fotosite
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