Por Fabio Lage – House of Models
Se você não estava na Blue Space na segunda feira à noite, sentimos informar: perdeu o batismo coletivo da temporada. Comandada por Alexandre Herchcovitch, a marca Herchcovitch;Alexandre transformou a lendária casa noturna paulistana — reduto de shows drag como os de Marcia Pantera — em uma raveshow catártica de alta-costura experimental com gosto de suor, glitter e provocação. No maior estilo inferninho fashion, o desfile Inverno/Primavera 25 foi um ritual de celebração da modelagem ousada e da técnica que fez o nome de Alexandre ecoar por gerações.
Nada de tema. Tudo de forma.
Herchcovitch abriu mão de narrativas fechadas e escolheu deixar a coleção respirar através das formas e construções. “No fundo, é tudo um exercício para eu melhorar como estilista”, disse ele minutos após o fim do desfile. E o resultado desse exercício foi um repertório técnico de fazer estilista chorar no backstage: vestidos estruturados com corsets invisíveis, lingeries neon sob vestidos românticos transparentes, e sedas tingidas em tons fluor — um feito que levou anos para ser alcançado, já que os pigmentos brilham com mais facilidade em tecidos sintéticos.
Glow couture e a volta dos 60s (com rave inclusa)
Com mais de 81 mil cristais Swarovski — incluindo versões fluorescentes — aplicados manualmente em roupas e acessórios em parceria com Hector Albertazzi, o desfile brilhou, literalmente. O auge veio quando as luzes caíram e a passarela foi tomada pela luz negra: moletons, vestidos e meias brilhavam como se cada look fosse um avatar místico de alguma irmandade eletrônica… – Ba-ba-do!
As silhuetas A dos anos 60 e 70 reapareceram com vigor: casacos armados, vestidos com laçarotes, tecidos de aspecto retrô e recortes ousadíssimos (alô, recortes estratégicos nas nádegas!). O desfile foi encerrado com quatro vestidos de látex amazônico moldados em manequins com quadris armados à la século XVII. Se o futuro é ancestral, Alexandre entendeu o recado, mon petit!
Plateia fervida, casting afiado e clima de culto
A passarela elevada foi montada no meio da pista da Blue Space. O gargarejo? Um aglomerado fino e fervido: Costanza Pascolato, Adriane Galisteu, Urias, Valentina Herszage e a própria Marcia Pantera, musa-mor do estilista. Entre os flashes, também estava a modelo Flávia Lucini acompanhada do ator Leandro Lima, que, dizem, está prestes a voltar com tudo às telinhas brasileiras. Spoiler quente, mon amour!
Styling do desejo: meias brilhantes e sapatos escolares de outro planeta
Um dos maiores acertos de styling foi o mix de mocassins quadrados com meias de lurex translúcido. Uma combinação de colegial cybergótica com debutante de Saturno. Nas mãos, bolsas volumosas com alças trançadas e texturas acolchoadas davam vontade de abraçar. E de levar pra casa, né darling Lee?
Herchcovitch;Alexandre – SPFW N59 – Foto: Marcelo Soubhia – @agfotosite
Matéria-prima da alquimia
O caderno técnico distribuído no desfile revela preciosidades: veludo cotelê, zibeline listrado, organzas bordadas, jacquard cloquê com cristais e corsets de crinol flúurico. Alexandre Herchcovitch não entrega uma moda comum, baby; ele destila desejo em formato de tênue escultura têxil… – Tá bom pra você?
Casting estelar e passarela lendária
Com direção assinada por Bill Macintyre, o casting foi uma verdadeira aula de presença. Carol Ribeiro, Cris Herrmann, Daiane Conterato, Geanine Marques, Larissa Ferreira, Liya Crispim, Julia Baungerter, Brenda Pivatto e Victoria Seiler desfilaram como se carregassem o espírito da própria marca em cada passada. Victoria, aliás, fechou o desfile com um look apoteótico, encerrando a noite como se dissesse: “a moda não dorme, ela pulsa, mon chéri!”.
Veredito?
Herchcovitch reafirma seu posto não apenas como um dos maiores nomes da moda brasileira, mas como um dos poucos capazes de transformar o desfile em experiência espiritual. Saímos todos batizados — de cristais e luz negra, claro.
House of Models cobriu. Anotou. Dançou. E aplaudiu de salto alto.
Foto: AG Fotosite