Fubanga Core: o estilo maximalista de Marcela Carrasco

Ela desce do salto, mas só se for pra correr atrás do batom que caiu. De resto, continua lá no alto: com os óculos maiores que o juízo alheio, a saia mais curta que a paciência com julgamento e o decote tão profundo quanto o discurso que carrega. Marcela Carrasco, 29 anos, viralizou com um vídeo que é um tapa (de glitter) na cara do moralismo fashion tupiniquim: o manifesto do Fubanga Core.

De vermelho vivo, corset cravejado e saia metálica assimétrica, uma Carmen Miranda dos tempos de Instagram.

O post explodiu: 8 milhões de visualizações. E o que ela vestia? Um combo que faria qualquer consultora de imagem tremelicar na base: brilho, baby-liss, microshorts, batonzão e muito, mas muito exagero. E foi aí que ela cravou seu nome na nova estética que grita por liberdade: o “fubanga”, agora com status de “core”.

Mas… o que é esse tal de core?

Vamos lá, mon amour: desde o famigerado normcore — aquele estilo sem estilo, onde parecer despretensioso virou o novo hype — o sufixo “core” passou a nomear tudo que é tendência de comportamento com estética própria. Teve Barbiecore (rosa em overdose), Cottagecore (a camponesa sonhadora que faz pão sem glúten na Toscana), Balletcore (tule, sapatilhas e pose de primeira posição) e por aí vai…

A moda nomeia o que sente. E o que Marcela sentiu — e fez o Brasil sentir junto — foi um grito preso na garganta de milhões de mulheres que já foram chamadas de “fubanga” por ousarem se vestir como querem. E então surgiu: Fubanga Core.
Um estilo? Também.
Um discurso? Sobretudo.
Um movimento de libertação estética? Com certeza, honey Lee!

Da quebrada ao feed: a estética da mulher que incomoda

“Fubanga” sempre foi o apelido cruel que se dava pra mulher ousada, sensual, espalhafatosa. Aquela que chama atenção. Que dança no TikTok com roupa justa, desfila de blusa de paetê no ônibus lotado, e não pensa duas vezes antes de escolher um brinco de argola para ir ao mercado. Em resumo: a mulher que não pede desculpa por existir.
A cultura brasileira sempre teve suas divas “fubanga core” antes mesmo do termo existir:
Gretchen, com seus maiôs cavados e atitude de palco.
Tiazinha e Feiticeira, fetichizadas e vilanizadas na TV.
Valesca Popozuda, com seu “Beijinho no Ombro” carregado de mensagem e empoderamento.
Joelma, com botas até o joelho e emoção até o teto
Todas rotuladas, julgadas, mas também idolatradas. E agora, referenciadas.

Com maxi acessórios religiosos, gótica tropical, pendurada em terços e pulseiras como se fosse a Madonna de “Like a Prayer” nas ruas de São Paulo.
Com maxi acessórios religiosos, gótica tropical, pendurada em terços e pulseiras como se fosse a Madonna de “Like a Prayer” nas ruas de São Paulo.

Marcela Carrasco mergulha nessa estética com consciência. Ela não imita: ela ressignifica. Com discurso afiado, ela transforma o julgamento em oportunidade e o deboche em ferramenta.

“Me denominar como fubanga não me diminui. Pelo contrário, me dá licença poética pra fazer o que eu quiser”, afirma, entre um óculos maximalista e outro — da própria grife, a EORA, onde comanda criação, branding e distribuição. Sim, querida, ela não é só um rosto bonito com gloss cintilante: é empresária, criadora e diretora criativa.

E por fim, toda de preto, na Avenida Paulista, encarnando a diva urbana que não precisa de motivo pra estar montada. Porque ela é o próprio evento.

Fubanga, sim. Submissa, jamais.

No calor de São Caetano do Sul, onde nasceu, ela aprendeu cedo que sensualidade e autenticidade eram frequentemente confundidas com vulgaridade. Mas Marcela nunca quis caber. Nem no padrão, nem no estereótipo, muito menos na roupa mínima que vestia. Porque o corpo é dela. O estilo também.

E é por isso que o Fubanga Core incomoda tanto: porque ele é, antes de tudo, feminino demais para a sociedade que ainda teme o poder da mulher que se exibe sem pedir desculpa. Ele desafia o bom gosto elitista, o tédio da estética “clean girl”, a opressão de um look que só é aceitável se parecer europeu e minimalista.

Em look dourado com franjas, com cara de quem vai pra balada e fecha contrato de milhões no caminho.

House of Models assina o atestado:

Marcela Carrasco é a musa de uma geração que não quer seguir regra nenhuma.
Ela é “babadeira” e prova que a estética popular é rica, forte, criativa e subversiva. Que o brilho pode ser arma. Que o salto alto é trincheira. E que ser chamada de “fubanga” , meu amoooor… pode, sim, virar uma coroa.
Então respeita, bebê. O “Fubanga Core” não é só tendência.
É revolução vestida de lamê.

Foto: Divulgação – Way Model