Carta Aberta aos Profissionais da Moda e à Indústria de Eventos: Reflexões sobre Respeito e Valorização da Imprensa.

Há mais de 20 anos, eu dedico minha vida ao jornalismo de moda. Ao longo dessas décadas, acompanhei a evolução da indústria, as transformações estéticas e tecnológicas, e sempre estive presente nos grandes eventos que celebram a criatividade e o talento de estilistas, modelos, e todos aqueles que fazem a moda acontecer. No entanto, após tanto tempo atuando no setor, sinto que é necessário compartilhar algo que muitos de nós, profissionais da imprensa, enfrentamos em silêncio: a falta de respeito e valorização pelo trabalho que desempenhamos.

Cobrir uma semana de moda vai muito além de assistir a desfiles. Existe um investimento significativo por trás de cada veículo de comunicação que se propõe a cobrir esses eventos. São gastos com viagens, hospedagem, alimentação, equipe técnica, e, principalmente, tempo e dedicação. O retorno desse esforço se reflete nos números: só no último mês, alcançamos 419 mil contas, com 8,7 mil interações de engajamento, e um crescimento de 7,4% no total de seguidores na rede social Instagram. Esses dados são uma prova concreta da relevância e do impacto que nosso trabalho tem sobre a audiência e como ajudamos a amplificar as vozes da indústria.

Não estamos ali apenas para “assistir”, mas para trabalhar, construir histórias e contribuir para o sucesso da própria indústria da moda. E, ainda assim, muitas vezes somos tratados como se nossa presença fosse um favor, uma concessão, ou até mesmo um incômodo.

A pergunta que fica é: até que ponto vale a pena? Se o ambiente não nos oferece o respeito necessário para realizarmos nosso trabalho, se somos constantemente colocados em posições de inferioridade, não seria mais produtivo cobrir os eventos do conforto de nossas casas? Hoje, com a tecnologia disponível, é perfeitamente possível assistir a desfiles online, analisar coleções e compartilhar nossa visão sem ter que enfrentar situações constrangedoras e desrespeitosas. Mas a questão não deveria ser essa. Nós queremos estar presentes, participar ativamente, celebrar a moda ao lado de seus protagonistas e colegas de trabalho. Queremos contar essas histórias com a riqueza que só a experiência presencial proporciona. O que pedimos em troca é simples: RESPEITO!

É importante deixar claro que esta carta não é sobre a SPFW em si. O retorno do evento ao Parque Ibirapuera, liderado pela visão única de Paulo Borges, assessorado pela equipe profissional e qualificada da MKTMIX, é algo que merece ser aplaudido. Paulo trouxe de volta o brilho e a grandiosidade que fazem do SPFW um dos eventos mais importantes do calendário internacional de moda. A organização, em geral, está de parabéns por proporcionar um espaço onde a criatividade floresce, e nem tudo é negativo.

O problema reside no comportamento de alguns profissionais que deveriam zelar pela boa comunicação e garantir que o acesso seja dado de maneira respeitosa àqueles que estão ali para trabalhar. Assim como estilistas, modelos, maquiadores e produtores, camareiras, seguranças, nós, jornalistas, fotógrafos e veículos de comunicação, também estamos trabalhando. E nosso trabalho não acontece sem esforço, sem investimento e sem paixão.

A moda é um setor que se reinventa a cada estação, que celebra a inovação e a transformação. Então, por que não podemos também reinventar as relações que permeiam os bastidores? Que possamos criar um ambiente onde todos, sem exceção, sejam tratados com o respeito que merecem, desde o camareira até o jornalista. Que a comunicação entre assessorias, imprensa e organização flua de maneira harmoniosa, sem desdém, sem arrogância, mas com colaboração e profissionalismo.

A moda é, antes de tudo, uma expressão daquilo que somos como sociedade. E uma sociedade que não respeita o trabalho alheio, que não reconhece a importância da comunicação, está fadada a perder sua própria essência.

Por isso, esta carta é um apelo – um apelo para que juntos possamos transformar não apenas o que vemos nas passarelas, mas também o que acontece nos bastidores. Porque a moda não é só sobre roupas. É sobre pessoas. E cada uma delas importa.

Atenciosamente,

Fábio Lage
Editor-Chefe

Arthur Hilário
Editor Assistente

HofM – House of Models