Após a era camp de Jeremy Scott, Adrian Appiolaza trabalha o humor da Moschino de forma mais sutil e desejável no verão 2025 da marca, sua segunda coleção como diretor criativo.
O desfile da Moschino apresentado nesta quinta-feira (19.09), na Semana de Moda de Milão, pode ser considerado a primeira coleção feminina completa desde que Adrian Appiolaza assumiu o posto de diretor criativo. Explico: o estilista argentino foi contratado semanas antes da temporada de inverno 2024, após a morte repentina de Davide Renne, e teve pouco tempo para conceber como seria a moda da etiqueta sob seu comando. O desfile de verão 2025 mostra com mais clareza esse caminho babadeiro.
Darling, depois da efervescente era Jeremy Scott, marcada por exageros e a inconfundível estética camp, Adrian Appiolaza pisa firme em seu segundo desfile como diretor criativo da Moschino. O argentino não só revitaliza os códigos do fundador Franco Moschino como os moderniza com um toque de ironia mais sutil e ao mesmo tempo carregada de desejo. O verão 2025 da Moschino, apresentado em Milão, é um banho de sarcasmo refinado, onde o “menos é mais” encontra o “mais é mais” — de um jeito só seu.
A entrada triunfal da brasileira Carol Monteiro, que já ganhou destaque aqui no House of Models, não poderia ter sido mais simbólica. Um vestido simples, quase monacal, branco puro, com amarrações e volumes discretos. A ironia? A peça remetia a uma toalha de mesa amarrada ao corpo, uma sutil homenagem ao irreverente humor de Franco Moschino, que também brincava com elementos cotidianos, elevando-os ao patamar de luxo. – Que criança nunca brincou com lençóis na infância, né querides?
Na coleção, intitulada provocativamente de “Piece of Sheet”, Adrian Appiolaza constrói um novo mundo a partir da desconstrução de itens básicos e mundanos. Os vestidos brancos são a peça-chave: lençóis, camisolas e camisas oversized, todas amarradas ou propositalmente desajeitadas no corpo. E não se trata apenas de uma referência visual, mas uma verdadeira celebração do desconstruído, uma estética tão cara à Moschino de outros tempos. Os poás, assinatura de Franco, também são revisitados, mas com uma pitada moderna. Eles aparecem não apenas nas roupas, mas se tornam parte da narrativa visual, estampando até a pele das modelos.
A cartela de cores: Essencialmente monocromática, com brancos dominantes, pinceladas de preto e cinza. O neon surge como o toque inesperado em acessórios – destaque para as clutches fluorescentes – e os sapatos adornados com spikes, que adicionam uma pitada de rebeldia ao look minimalista. O preto dramático e os detalhes metalizados nas modelagens oversized reafirmam o flerte da marca com o universo punk e rocker, reinterpretado para o público high-fashion de hoje.
Os acessórios foram uma verdadeira aula de humor e estilo. As pérolas aparecem em forma de harness (arreios), usados como um toque final em looks extremamente minimalistas. Bolsas em formato de chaleiras e até mesmo garrafas de água sanitária – a divertida Q-Boa by Moschino – conquistaram as passarelas. Um jogo irônico com o utilitário, sempre ressignificado no universo de Franco Moschino, agora visto com o olhar contemporâneo de Appiolaza.
As modelos brasileiras, Carol Monteiro, Luiza Perote e Laiza de Moura, brilharam no casting poderoso, cuidadosamente selecionado por Julia Lange, diretora de elenco. Com um casting diverso, que celebrou tanto ícones estabelecidos quanto novos rostos, Addison Soens e Sascha Rajasalu também se destacaram, abrindo caminho para uma diversidade que reflete a atual fase da moda global. Não foi à toa que o desfile teve um ar de frescor, onde cada modelo parecia trazer um pedaço da narrativa de Appiolaza.
Adrian Appiolaza faz uma homenagem inegável aos códigos originais de Franco, mas suaviza as caricaturas para oferecer algo desejável, colecionável, e ainda assim, provocador. A sátira irreverente do fundador ainda vive, mas em um nível mais elevado de sofisticação. As jaquetas puffer com enchimento de almofadas e as saias com zíperes estrategicamente abertos são exemplos do como ele traz algo novo sem deixar de reverenciar o passado da marca.
Se Jeremy Scott exagerava no camp com estardalhaço, Appiolaza opta pela sátira elegante. É uma volta à essência da Moschino, mas com uma renovação minimalista. O jogo de palavras permanece: “Tubino or not tubino?”, brinca uma das estampas, mas o exagero dá lugar à ironia bem polida.
Os detalhes também não passam despercebidos: vestidos amplos com cortes geométricos, tecidos que flutuam ao vento e desconstruções que parecem improvisadas, mas que na verdade são o ápice da técnica refinada. Tudo isso sem perder o toque de humor que caracteriza a Moschino: são “pequenos escândalos visuais”, perfeitos para uma nova geração que entende e aprecia o valor do subversivo.
Concluindo, o verão 2025 da Moschino é uma obra de arte vestível, uma provocação contida que brinca com o imaginário de luxo sem deixar de lado o humor ácido e os recados sutis. Appiolaza resgata o DNA da marca, devolve sua essência e coloca Moschino novamente no topo dos desfiles imperdíveis – e mais do que isso, a faz renascer com fôlego renovado.
Foto: Divulgação
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