Você já parou para pensar em como gostaria de ser lembrado? Qual seria o figurino perfeito para o seu último ato? Se essa pergunta parece inusitada, é porque você ainda não conheceu o trabalho de Augusto Paz. Na última quinta-feira, 15 de agosto, o estilista fez sua estreia na passarela com um desfile que, literalmente, matou a concorrência – e não foi de tédio! Sob o sugestivo título “Aqui Jaz Augusto Paz”, o Nacional Club, em São Paulo, se transformou em um palco para 22 looks que desafiaram a seriedade do luto, convidando todos a celebrarem a vida com estilo e irreverência.
A inspiração por trás da coleção é carregada de emoção e simbolismo. Após a perda inesperada de uma grande amiga – uma dessas almas que iluminam qualquer ambiente – Augusto decidiu transformar a dor em arte.
E foi com essa premissa que surgiu a ideia de um funeral onde os convidados estivessem vestidos à altura da celebração que ele imaginava para si próprio.
Entre os “convidados” que Augusto idealizou para seu próprio funeral estão personagens que não passam despercebidos: uma mulher fatal, uma interesseira e uma jovem com aquele ar de inocência roubada. Essas personagens foram trazidas à vida pelas modelos Carmelita Mendes, que desfilou em um imponente vestido preto com aplicações florais brancas; Indyra Carvalho, que brilhou em um vestido vermelho dramático com peplum; e Vivi Orth, que encantou a plateia com um look vermelho e branco, complementado por um chapéu estruturado.
Este desfile marca uma nova fase na carreira de Augusto, que até então se dedicava à produção sob medida em seu ateliê no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Pela primeira vez, ele apresenta uma coleção que pode ser experimentada e, por que não, desejada por uma clientela que sempre sonhou em se vestir como uma obra de arte viva.
E quando o assunto é falar de morte, Augusto não poderia deixar de homenagear suas raízes. Com uma forte conexão com sua ancestralidade espanhola, o estilista trouxe referências da vestimenta tradicional ibérica, desde as amplas saias inspiradas nos trajes de flamenca, como o vestido desfilado por Samira Carvalho, até as aplicações em crochê que remetem aos cravos e aos trajes de luzes dos toureiros, como o vestido negro dramatizado por Alessandra Belic, nossa “gothic model” favorita.
Outro destaque foi a modelo Nara, que desfilou um dos looks mais ousados da noite, com um conjunto branco volumoso adornado com grandes botões dourados e um chapéu que mais parecia uma obra de arte contemporânea.
O espetáculo, digno de um grande final, foi aplaudido de pé. Mas nenhum grande show acontece sem uma equipe por trás que orquestra cada detalhe com precisão cirúrgica. A direção geral ficou por conta de Roberta Marzolla, cujo olhar apurado garantiu que cada aspecto do desfile fluísse como uma sinfonia bem ensaiada. Heleno Manoel trouxe sua expertise para o styling, criando visuais que harmonizaram perfeitamente com o conceito da coleção. A beleza das modelos, assinada por Ricardo dos Anjos, complementou o drama e a elegância das peças, enquanto as pedrarias de Guilherme Borsatto adicionaram o brilho necessário para destacar cada detalhe. Cassia Cipriano, responsável pela chapelaria, nos presenteou com verdadeiras obras de arte, e a trilha sonora, cuidadosamente selecionada por João Kaarah, deu o tom exato para o que pode ser considerado um desfile inesquecível.
Afinal, Augusto Paz contou histórias, provocou reflexões e nos fez questionar: como queremos ser lembrados? Talvez, como alguém que não teve medo de celebrar a vida, mesmo diante da morte.
Foto: Zé Takahashi – Reprodução
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