Quando falamos em diversidade na publicidade, não estamos discutindo apenas uma tendência passageira ou um tópico de interesse acadêmico. Estamos lidando com uma questão de respeito, inclusão e, acima de tudo, de performance empresarial. A representatividade da pluralidade de pessoas não é apenas moralmente correta, mas também impulsiona os resultados das empresas, criando um impacto positivo tanto social quanto econômico.
Um estudo revelador conduzido pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) da UERJ, que analisou anúncios publicados na revista Veja entre 2018 e 2023, destaca a falta de diversidade nas campanhas publicitárias brasileiras. Segundo o estudo, impressionantes 83% dos modelos em campanhas publicitárias são brancos, enquanto os não brancos representam apenas 17%. Dentro dessa minoria, modelos negros e pardos são os mais representados, enquanto modelos amarelos e indígenas correspondem a apenas 2%. Esses números são alarmantes, considerando a diversidade étnica da população brasileira.
Por outro lado, há sinais de progresso. A pesquisa Todxs, uma parceria da agência Heads com a ONU Mulheres, tem monitorado a diversidade em anúncios de TV e no Facebook desde 2015. Os dados mostram uma evolução clara: em 2015, apenas 4% dos protagonistas em comerciais de TV eram negros, percentual que subiu para 22% em 2020. Essa mudança, embora positiva, ainda não é suficiente para refletir a realidade da sociedade brasileira.
Além disso, o Manual DIV.A.S. (Diversidade, Ação e Sensibilidade na Publicidade Brasileira) foi desenvolvido para orientar o mercado publicitário sobre as melhores práticas para tratar a representatividade de gordos, LGBT+, negros, idosos, indígenas e pessoas com deficiência. Esse manual é um passo crucial para educar e sensibilizar os profissionais da área, garantindo que as campanhas publicitárias sejam mais inclusivas e representativas.
No entanto, os desafios permanecem. De acordo com uma pesquisa da Croma Consultoria, 21% dos entrevistados consideram a publicidade nacional preconceituosa e 78% acreditam que a diversidade deve ser uma prática constante nas marcas. Esses dados ressaltam a necessidade urgente de mudanças no setor publicitário para refletir de maneira mais precisa a diversidade da população brasileira.
A diversidade na publicidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente de negócios. Campanhas inclusivas têm o poder de conectar-se melhor com o público, construir confiança e lealdade à marca, além de promover uma imagem positiva e progressista da empresa. O mercado de modelos também precisa refletir essa diversidade, oferecendo oportunidades iguais para todos, independentemente de sua origem étnica, gênero, orientação sexual ou condição física.
Para que essa transformação aconteça, é fundamental que as empresas e agências publicitárias se comprometam com políticas de inclusão e diversidade. Isso inclui a contratação de modelos de diferentes origens, a criação de campanhas que representem verdadeiramente a sociedade e o investimento em educação e sensibilização sobre a importância da diversidade.
A diversidade na publicidade é crucial para refletir a verdadeira composição da população e promover a inclusão. Embora tenhamos visto alguns progressos, ainda há muito trabalho a ser feito. É responsabilidade de todos nós – empresas, agências, consumidores e sociedade em geral – garantir que a publicidade seja um espelho fiel da nossa diversidade, celebrando e respeitando todas as formas de ser e existir.
Foto: Divulgação
Deixar um Comentário